Fernanda Young estava ótima no "Saturday Night Live" de domingo passado. Parecia absolutamente à vontade no monólogo de abertura, como se fosse uma atriz com muitos anos de estrada (o que de certa forma é). Mas o que realmente me chamou a atenção foi sua desenvoltura em tirar sarro de si própria.
Ela comparou o fracasso de audiência da estreia do "SNL" com a baixa vendagem da "Playboy" para a qual posou. Não foi exatamente novidade: em seus programas no GNT, Fernanda sempre foi muito sarcástica consigo mesma.
Isto é saudável, e também bastante raro no showbiz brasileiro. Semana passada comentei aqui na coluna como os nosso famosos lidam mal com paródias e gozações. E aí aconteceu um fato que só confirmou a minha tese.
Silvio Santos conseguiu uma liminar proibindo os humoristas do "Pânico" não só de se aproximarem dele, como também de imitá-lo. Acho até compreensível que um artista não queira sofrer o assédio implacável da trupe do programa da Band: os caras frequentemente exageram na dose, e o que era para ser engraçado se torna simplesmente agressivo.
Não querer ser imitado já é outra história. E mais incrível ainda é existir juiz que emita este tipo de decisão. É um sintoma perverso da nossa cultura, ainda extraordinariamente patrimonialista e patriarcal.
Coisa parecida jamais aconteceria nos Estados Unidos. A versão original do "SNL" foi cruel com Sarah Palin durante a campanha eleitoral de 2008, quando ela era candidata a vice-presidente pela chapa republicana. E como foi que a ex-governadora do Alasca reagiu? Não, não acionou seus advogados. Foi participar do programa, o que só pegou bem para sua imagem.
Por aqui é o contrário. A intolerância com piadinhas não atinge só as celebridades. Agora todo mundo tem os brios feridos e se sente no direito de reclamar de qualquer piadinha na TV. A reação exagerada dos jogadores de polo aquático ao quadro que o "SNL" veiculou semana passada me fez suspeitar de que eles são mesmo uns dodóis.
O mais grave é a possibilidade da decisão judicial em favor de Silvio Santos abrir um precedente. Vai estar assim de gente querendo calar a boca dos humoristas, principalmente entre os políticos. Já houve uma tentativa nas eleições de 2010, felizmente abortada. Mas não duvido que voltem à carga este ano.
É normal que qualquer pessoa com exposição na mídia queira controlar a própria imagem. O que não é normal são juízes que fazem uma interpretação antiquada da lei, passando por cima da liberdade de expressão. Pois é –ainda falta um bocado para que o Brasil seja uma democracia plena.
F.COM
Tony Goes