Encontrar um preso que fale sobre extorsão dentro da cadeia é praticamente impossível. Familiares, no entanto, embora não forneçam detalhes, confirmam que precisam levar dinheiro para os presos, mas evitam perguntar que tipo de dívida foi contraída dentro das celas. O pai de um preso aceitou falar sob a condição de não ser identificado. Ele não confirma que o filho está sendo extorquido por outros presos, mas sua suspeita vem do dinheiro que o filho exige.
Em média o pai deve levar R$ 200 por mês para pagar “dívidas em geral”. Além de nem sempre dispor do valor, ainda enfrenta outro problema: nos presídios, cada detento sentenciado ou provisório (sem julgamento) só pode receber de parentes até 10% do salário mínimo, o que chega a apenas R$ 35.
O pai relata que não soube como enviar o dinheiro. Como o filho ficou fora alguns meses – esteve preso por roubo e ficou em liberdade condicional – acabou praticando outro assalto. “Esse dinheiro (da extorsão) é para pagar um colchão mais confortável, produtos de higiene, e receber proteção. É claro que não vão pedir na cara dura dinheiro de contribuição”, admitiu o pai.
Ele revelou que o filho, quando preso, reclamava que tinha dívidas de até R$ 200, mas não fornecia detalhes – queria que o pai desse o dinheiro e pronto. O pai não conseguiu o valor exigido e o filho, um mês após sair em liberdade condicional, participou de um assalto e acabou preso novamente.
Diário de Cuiabá