A alta da inadimplência no Brasil, que foi destaque nos balanços dos três maiores bancos privados brasileiros divulgados nesta semana, não é motivo para desespero, na opinião de analistas do mercado. Depois de um susto no primeiro trimestre, os índices de calote devem começar a recuar no segundo semestre, como resultado da maior seletividade das instituições financeiras na concessão de crédito e da queda das taxas de juros, que deve facilitar o pagamento das dívidas.
Esta semana, Bradesco, Itaú Unibanco e Santander anunciaram que tiveram aumento dos seus níveis de inadimplência nos três primeiros meses do ano, principalmente no segmento pessoa física. Por causa disso, os bancos precisaram elevar as provisões para créditos de liquidação duvidosa, afetando seus resultados trimestrais.
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O mais afetado pela alta dos calotes dos tomadores de empréstimo foi o Itaú, cuja inadimplência de mais de 90 dias passou de 5,7% no primeiro trimestre de 2011 para 6,7% em igual período deste ano. No Bradesco, a inadimplência saltou de 5,5% para 6,2%, enquanto no Santander aumentou de 5,9% para 6,7% na mesma base comparativa.
Longe de ser uma realidade recente, esse aumento do calote é fruto de uma conjuntura passada com reflexos no presente, de acordo com Eduardo Velho, economista-chefe da Prosper Corretora. “Essa elevação dos últimos meses foi em função do ritmo do crescimento do País nos anos passados, com aumento da renda formal até meados de 2011. Com o volume maior de crédito no mercado, as pessoas tomaram empréstimos com taxas de juros mais elevadas”, explica.
No entanto, a crise econômica que afetava a Europa e os Estados Unidos começou a mostrar sinais de força sobre o Brasil, causando a desaceleração da economia do País. “Isso somado ao aumento da inflação no segundo semestre corroeu o poder de compra da população, afetando sua capacidade de pagamento”, afirma, por sua vez, Leonardo Zanfelicio, economista-chefe da Concórdia.
Em alguns casos, como no do Itaú, o aumento da inadimplência se deu de forma mais expressiva no segmento de financiamento de veículos, no qual a concessão de crédito cresceu após a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Já no Bradesco, o calote em cartão de crédito afetou o balanço do banco. “Se você desconsiderar o cartão de crédito, a inadimplência da pessoa física seria de 5,0% no Bradesco”, afirma Zanfelicio.
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"O movimento de aumentar a provisão e reduzir as taxas de juros em menor proporção que os bancos públicos já evita uma explosão da inadimplência”, diz Velho, da Prosper. No entanto, para diminuir ainda mais o calote os bancos precisam lançar mão de uma maior seletividade na concessão do crédito, na opinião de Bruno Gonçalves, analista fundamentalista da Wintrade.
“Eles devem adotar uma política de seleção maior para aumentar a qualidade da carteira de crédito. Podem exigir aumento das garantias e apertar a concessão tanto para financiamento de veículos como para crédito pessoal”, acredita.
Mas isso não deve surtir efeito imediato. “As medidas de restrição de crédito que estão sendo tomadas agora pelos bancos devem fazer efeito em médio prazo. Assim, a inadimplência pode não diminuir no próximo trimestre, mas veremos números melhores no segundo semestre do ano,” diz Plinio Chap Chap, economista da escola de negócios BBS.
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Inadimplência limita queda de juros, diz diretor do Itaú
Os bancos também apostam nisso. O Bradesco, por exemplo, vê a inadimplência começando a cair no segundo trimestre, enquanto Itaú e Santander apostam em uma queda a partir do terceiro trimestre. “A inadimplência deve cair em meados do segundo semestre. As pessoas estão pegando taxas de juros mais baixas (as instituições financeiras reduziram os juros em resposta ao corte das taxas praticado pelos bancos públicos), e, com isso, podem melhorar seu poder de compra”, diz Zanfelicio, da Concórdia.
Além disso, os economistas acreditam que a recuperação econômica brasileira pode ajudar a reduzir os níveis de inadimplência, devido aos programas implementados pelo governo para incentivar a indústria e melhorar o consumo. “Isso já poderá ser percebido nos próximos balanços dos bancos”, afirma Eduardo Velho, da Prosper Corretora.
A queda dos juros também deve favorecer o movimento de renegociação das dívidas. “Em um primeiro momento, a pessoa vai ter condição de pagar uma prestação menor e honrar seus compromissos”, acredita Zanfelicio. Ele alerta, porém, para o risco de, por conta da redução da parcela, o cliente achar que pode tomar mais empréstimos. “Ela pode olhar e achar que a prestação cabe no bolso, mas precisa se controlar”, adverte.
Colaborou Olívia Alonso, iG-SP