"Ele explicou a forma como recebeu instruções da Al-Qaeda durante sua viagem ao Paquistão, chegando a ter uma proposta para provocar um atentado suicida, que ele recusou, mas aceitou uma missão geral para cometer um atentado na França", declarou o ministro à rede TF1.
Na noite de quarta-feira, depois de mais de 20 horas de cerco ao suspeito, três explosões foram ouvidas e luzes alaranjadas foram vistas no céu na área onde fica localizado o prédio de Merah.
Apesar de incialmente parecer que as explosões pouco antes da meia-noite na França (quase 20h em Brasília) ocorreram por causa do início da operação para conseguir entrar no apartamento, Guéant disse que as explosões foram feitas para pressionar o atirador a se entregar.
O ministro afirmou que o suspeito jogou pela janela a arma supostamente usada nos três ataques em troca de um “aparelho de comunicação” para negociar sua rendição, que estava prevista para esta quarta-feira. Ele tem outras armas, incluindo uma metralhadora AK-47. “Nossa principal preocupação é prendê-lo, e prendê-lo em condições nas quais ele possa ser apresentado à Justiça”, afirmou o ministro. “Capturá-lo com vida é crucial.”
A polícia chegou a entrar no local, mas saiu após uma troca de tiros que feriu três policiais. O ministro acrescentou que o jovem é monitorado há "vários anos" pela França, por suas "visões fundamentalistas".
Outro assassinato
Também nesta quarta-feira, o ministro disse o suspeito planejava matar outro soldado na segunda-feira passada, mas acabou atacando a escola judaica. “Como não foi capaz de encontrar um soldado, ele se dirigiu à escola”, explicou.
O suspeito, identificado como o francês de ascendência argelina Mohamed Merah, de 24 anos, está cercado pela polícia desde às 3h local (23 horas de terça-feira em Brasília) em sua residência no norte de Toulouse, no sul francês. A polícia conseguiu rastreá-lo por uma conexão de internet.
Merah é suspeito pelo ataque a tiros contra uma escola judaica de Toulouse na segunda-feira e por dois atentados contra militares na semana passada em Toulouse e Montauban. Há informações de que ele planejava lançar um quarto ataque nesta quarta-feira, afirmou o procurador francês François Molins.
Previamente às declarações à TF1, Mollins disse que o suspeito afirmou ter agido sozinho e lamentou as sete mortes, mas disse que queria matar mais pessoas para "deixar a França de joelhos". Segundo Guéant, o suspeito afirmou que os ataques foram realizados para “vingar crianças palestinas mortas no Oriente Médio” e punir a França pelos "crimes" cometidos no Afeganistão.
De acordo com o jornal francês Le Figaro, um homem que se identificou como autor dos ataques usou uma cabine telefônica para ligar cerca de 1h local para o canal de notícias France 24. Em uma conversa de dez minutos com a jornalista Ebba Kolondo, ele reivindicou responsabilidade pelos ataques, disse Molins. A jornalista o descreveu o homem como "muito eloquente" que deu detalhes específicos sobre os assassinatos, como a quantidade de tiros disparados.
À BBC, Ebba disse que ele não deu seu nome, mas contou fazer parte de uma célula da Al-Qaeda em operação na França. Inicialmente, Ebba conta que a ligação fosse um trote. Seu interlocutor disse que filmou todos os ataques e planejava colocar a gravação na internet. Segundo ela, o homem era excessivamente educado e tentou responder a todas as suas questões.
Investigação: Conexão na internet permitiu localizar autor de ataques na França
Treinamento terrorista
O suspeito, que continua cercado em Toulouse, foi ao Afeganistão duas vezes e recebeu treinamento na região do Waziristão do Sul, um dos redutos da Al-Qaeda. Dois policiais também estavam na lista de vítimas de Merah.
Christian Etelin, advogado de Merah, disse ter alertado seu cliente de que viagens para o Afeganistão o marcaria como suspeito pelas autoridades. “‘Você sabe que se for para o Afeganistão, provavelmente ficará sob fiscalização’”, lembrou o advogado.
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O irmão do Merah, detido na manhã desta quarta-feira para interrogatório, estaria envolvido em um grupo militante que envia combatentes para o Iraque. Autoridades disseram que explosivos foram encontrados em um dos carros dele. Também foram detidas a companheira do irmão e a mãe dos dois homens. Promotores disseram que outras operações estão em andamento para procurar possíveis cúmplices.
Enterro
As quatro vítimas do ataque a tiros contra a escola foram enterradas nesta quarta-feira em um cemitério de Jerusalém, em Israel. Parentes acompanharam chorando o enterro do rabino Jonathan Sandler, 30 anos, seus filhos Arieh, 5 anos, e Gabriel, 3 anos, e de outra criança, Myriam Monsenego, 8 anos.
Durante o enterro, a mulher do rabino, Eva Sandler, se despediu do marido e dos dois filhos dizendo “voltem para casa” em francês. A imprensa israelense disse que Eva está grávida e viajou da França para Israel com o filho mais novo do casal.
As famílias das vítimas pediram para que elas fossem enterradas em Jerusalém. As crianças tinham dupla cidadania (francesa e israelense) e o rabino tinha vivido em Israel durante anos.
No funeral, o irmão mais velho de Myriam, Avishai, 20 anos, pediu que Deus dê força a seus pais. Em seu nome e dos outros três irmãos, ele pediu que o pai e a mãe “sigam em frente”.
Com AP e BBC