A eleição parlamentar iraniana pareceu expor ontem o racha social e ideológico entre uma população mais velha e religiosa majoritariamente pró-regime e uma classe média urbana que tende a rejeitar o sistema de governo.
Os números oficiais do resultado das urnas e da participação popular devem ser anunciados hoje, em meio ao ceticismo dos críticos com dados impossíveis de verificar.
Ontem à noite, porém, a agência de notícias semioficial Mehr dizia que Parvin Ahmadinejad, irmã do presidente, não havia conseguido um assento no Parlamento.
Na ausência de líderes oposicionistas, amordaçados ou impedidos de concorrer, o regime dividiu-se em duas correntes rivais –uma ligada ao líder supremo, aiatolá Ali Khamenei, outra ao presidente Mahmoud Ahmadinejad.
Mesmo rachados, os conservadores mantiveram garantido o controle do Estado. No contexto de crise, a aposta da cúpula do regime para ostentar legitimidade foi convocar a população a comparecer às urnas em massa.
"Quanto maior a participação, melhor para a dignidade, a segurança e o futuro", declarou Khamenei ontem. O apelo, martelado há semanas, ecoou de forma radicalmente oposta nas áreas da capital que a Folha percorreu.
Havia um claro esforço das autoridades para concentrar a cobertura da imprensa ao redor de três locais de votação em bairros populares.
Na mesquita Lor Zadeh, no centro-sul da cidade, eleitores formavam longas filas. Alguns ostentavam com orgulho bandeiras do Irã. A maioria eram pessoas acima de 40 anos que exibiam sinais de devoção religiosa: homens de barba e anéis nos dedos e mulheres de chador (véu).
"Voto porque amo meu país e quero que ele cresça com base na Revolução Islâmica. Morte aos EUA", disse a dona de casa J.K., 45. Em tom semelhante, o funcionário público A.H, 44, exigiu que o Ocidente "pare de interferir nos assuntos iranianos".
Ao fim do dia, agências de notícias oficiais anunciavam, sem detalhar números, "imensa" participação no país.
CARIMBO NO TÍTULO
Mas o que a Folha viu em oito centros de votação em outras áreas de Teerã foi baixo movimento. Alguns jovens com visual mais moderno disseram ter votado só para garantir o carimbo no título de eleitor, o que, segundo eles, evita problemas para formalidades administrativas.
Para moradores, a participação foi bem mais baixa do que no pleito presidencial de 2009, quando o regime esmagou protestos contra a reeleição supostamente fraudulenta de Ahmadinejad.
Segundo o jornal "Financial Times", o descompasso entre votação maciça em bairros populares e pouco comparecimento em regiões privilegiadas foi reproduzido em várias cidades do país.
F.COM