A notícia de que o Batalhão da Polícia Militar recebeu ofício com pedido de reforço policial para executar a reintegração de posse no assentamento Jd. Canaã, em Cuiabá, deixou cerca de 300 famílias apavorados neste final de semana. Mesmo com medo de que a ação da polícia seja violenta como no recente caso Pinheirinho, em São Paulo, os moradores do bairro se organizam para resistir ao despejo e fazer manifestações, porque não têm para onde ir. Por isso, neste domingo (12) os moradores e grupos de apoio ficaram de vigília durante toda a noite e devem fechar a principal avenida de acesso à região do Parque Cuiabá a partir das 7h30 da manhã desta segunda-feira, em protesto.
O mandado de reintegração de posse foi assinado em outubro de 2010 pela juíza Vandimara Galvão Ramos Paiva, da 21ª Vara Cível de Cuiabá, em benefício do empresário Armindo Sebba Filho, que reivindica o terreno, embora a documentação de posse tenha apresentado diversas irregularidades, de acordo com a Defensoria Pública, como explicam os moradores.
No local, homens e mulheres, jovens e idosos debatem alternativas para que o direito constitucional de moradia lhes seja assegurado, visto que, depois de dois anos e meio, ainda não obtiveram nenhum tipo de assistência do município, como energia elétrica, fornecimento de água ou pavimentação asfáltica.
O clima é de tensão, mas os habitantes do Jd. Canaã não pretendem deixar o local, pois investiram o pouco que seu trabalho pode garantir na contrução de suas casas. "Aqui não tem nenhum marginal. Há mães e pais de famílias que trabalham e cuidam desse lugar, que antes era ponto de estupro, desmanche e até desova de corpos", afirma um dos moradores mais antigos do assentamento, Rogério Silva (conhecido como careca).
Moradores e pessoas sensibilizadas com a causa também procuram maneiras de resolver o impasse por vias legais, e com auxílio de advogados devem procurar a Defensoria Pública nesta segunda-feira, 13 de fevereiro. A esperança é conseguir uma liminar determinando o não cumprimento da reintegração de posse.
Um dos casos
Marizete Souza Rosa, de 32 anos, não terá onde morar com os cinco filhos se tiverem de sair do assentamento Nova Canaã. Essa família sobrevive da pensão que foi concedida para seu filho de três anos, que é deficiente. A renda menal, que é conduzida unicamente por Marizete, que é solteira, gira em torno de R$ 600,00. Mesmo com a moradia construída por amigos, onde Marizete não paga aluguel, o dinheiro não é suficiente. "Como vou pagar um aluguel de trezentos ou quatrocentos reais?", questiona a moradora, que não pode trabalhar porque tem de cuidar integralmente do filho portador de necessidades especiais. Marizete conta que além de comprar a comida para a família com esse dinheiro, ela tem também de conseguir remédios, fraldas e leite especificamente para o menino de três anos, o Mateus Felipe. A moradora falou que normalmente passa por necessidades e que está preocupada com a possibilidade de despejo e com a falta de opção diante disso.
Texto e Fotografia – Luana Soutos e Dafne Spolti