Quando da divisão de Mato Grosso, eu era muito jovem e fui contra a mesma, movido por sentimentos nascidos de um atavismo aliado à boa dose do telúrico que nos é inato e nada mais. Hoje, é uníssono que Mato Grosso e Mato Grosso do Sul melhoraram e muito. O que não se pode concordar é que essa melhora foi fruto exclusivo ou determinante da divisão deste estado. Aliás, o desenvolvimento econômico dos dois estados foi devido a outros fatores, como o agronegócio, que se interligam à economia mundial e à globalização.
Agora, ouve-se, aqui e acolá, novamente o burburinho divisionista. Talvez impulsionado pelo projeto de divisão do Pará ou, o que tristemente pior, pela sanha de poder de uns poucos que sonham em governar um estado, ou, até, interesses escusos do sudeste e sul do país visando, com a divisão, enfraquecer a pujança de nossa economia. A quem interessa dividir o 14º PIB do país? Enfim, da absurda conveniência pessoal até interesses do capitalismo de estado são usados para tentar fatiar e destruir Mato Grosso.
O processo não é nem aleatório e nem espontâneo. Antes, é premeditado e ricamente orquestrado. Senão vejamos, uns dizem que o norte do estado e o vale do Araguaia foram abandonados. Mentira. Jaime Campos foi o responsável pelo “Linhão” que energia elétrica para o norte do estado. Dante iniciou os investimentos na infraestrutura dessas regiões, inclusive com programas de desenvolvimento econômico, como o pró-madeira e plantou a UNEMAT em dezenas e dezenas de municípios. O ex-governador Blairo foi fundamental na consolidação das políticas macroeconômicas para essas duas importantes regiões. Outros dizem que o norte produz e o resto do estado gasta. Falácia. Basta de comparemos o ICMS do vale do rio Cuiabá com as demais regiões do estado. E mesmo Cuiabá e Várzea Grande sendo responsáveis por quase 60% da arrecadação do ICMS do estado, este é divido com todos os municípios do estado e claro que nada mais justo que isso. Se o setor secundário e terciário da economia desenvolveu-se no entorno da capital por motivos e aspectos históricos e geográficos, não importa; assim como não interessa se a “revolução” agrícola se deu no sul e médio-norte por condições geológicas favoráveis e fatores tecnológicos inovadores. O que tem significado de verdade é se todas as regiões estão contempladas no planejamento estratégico de desenvolvimento. Se o governo do estado tem se esforçado para que tenhamos um IDH uniforme e aumentado para todo o Mato Grosso. O resto não passa de ilações de aventureiros descompromissados com nossa gente.
Dividir por quê? Apenas para contemplar interesses de novas oligarquias e promover ainda mais o gasto do dinheiro público com estruturas administrativas, legislativas e judiciárias desnecessárias? Dividir por quê? Só para acirrarmos o bairrismo e, aí sim, provocarmos o isolamento entre as regiões? Dividir por quê? Unicamente para separarmos a história, a economia e a geografia? Essas são as perguntas que devemos nos fazer quando se fala nas divisões de Mato Grosso. Quem a quer e os seus porquês divisionistas. A quem e por que interessa a criação do Mato Grosso do Norte e o estado do Araguaia?
Parece-me insano ou malévolo que se possa pensar em dividir um estado que tem a justiça presente em quase todos os municípios através de comarcas; que implanta hospitais regionais (recentemente Sinop e, em breve, um em Porto Alegre do Norte); que está concluindo a integração dos 141 municípios através do asfalto (faltam apenas 46 e no ano que vem, serão menos de 20), eu tenho cobrado veementemente a conclusão da 158 e da 242, fundamentais para o escoamento de boa parte de nossa produção agrícola; que fez com que o ensino superior chegasse a todos pela capilaridade da UNEMAT; que tem aeroportos para receber grandes aeronaves em Barra do Garças, Cáceres, Alta Floresta e, logo, em Matupá. Esses são alguns exemplos de um processo de integração e desenvolvimento construído por todos os mato-grossenses, ao longo de duas ou três décadas. E quando estamos quase prontos para sermos o grande estado brasileiro, surgem aqueles vendedores de ilusões com sofismas como “Dividir para crescer”. É quase inacreditável…
A Ditadura Militar dividiu Mato Grosso, mas não dividiu nossa história. Dividiram para acomodar interesses políticos; porém, não destruíram nosso hino: ”Dos teus bravos a glória se expande / De Dourados até Corumbá;”. Dividiram para que fossemos pequenos economicamente diante de outros estados da federação; todavia, crescemos, por causa de fatores alheios à divisão, durante décadas algo em torno de 10% ao ano e nos tornamos a terra da oportunidade e da prosperidade. Agora, sorrateiramente, querem retalhar “Nosso berço glorioso e gentil”, entretanto se esqueceram de combinar com o povo; mais, ao agirem às escondidas , tentam ludibriar os mato-grossenses. Eles se esquecem do que nos diz a canção de Pescuma: “É bem Mato Grosso” Teles Pires, Araguaia ou Pantanal. Caju, churrasco, festa de santo e rodeios. Grandes rebanhos e plantações fenomenais. E, acima de tudo, essa gente hospitaleira que deseja que sejamos um Mato só.
Guilherme Maluf é deputado estadual pelo e presidente do PSDB de Cuiabá.