quinta-feira, 07/11/2024
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Baixo investimento “condena” o crescimento futuro do país

O governo e as empresas brasileiras investem pouco. Por investir pouco, o Brasil não consegue crescer de forma sustentável, dar mais competitividade à produção industrial e nem mesmo impedir a deterioração da já precária malha de transportes. Estudiosos do assunto avaliam que, enquanto não aperfeiçoar marcos regulatórios e realizar reformas estruturais que liberem mais recursos para o investimento público e privado, o país continuará convivendo com altos custos de produção e com o recrudescimento da inflação e dos juros a cada surto de crescimento econômico.

O principal indicador de quanto o país investe é a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que contabiliza os recursos aplicados em obras de infraestrutura e na compra de máquinas e equipamentos industriais. De janeiro a junho, a FBCF somou R$ 356 bilhões, o equivalente a 18,1% do Produto Interno Bruto (PIB) – essa foi, portanto, a “taxa de investimento” do período. Ligeiramente inferior ao do primeiro semestre de 2010 (18,2%), o índice está bem abaixo do ideal. Estimativas indicam que, para a economia crescer 5% ao ano sem risco de inflação, a taxa de investimento deveria estar entre 23% e 25% do PIB.

Desde o início da série histórica do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 1995, o melhor índice anual foi de 19,1%, em 2008. Se o valor investido crescer 5,6% neste ano, como prevê o Banco Central, a FBCF fechará 2011 perto de 18,7% do PIB, pouco acima da apurada em 2010 – quando a taxa de investimentos ficou em 18,4%, o que coloca o país na 112.ª posição do ranking mundial, bem atrás de países como China (que investiu 46,2% do PIB), Índia (30,2%) e Coreia do Sul (28,6%).

A administração pública é responsável por uma parcela muito pequena do total investido – algo próximo de 2% do PIB, na soma de União, estados e municípios. Por isso, a dinâmica dos investimentos é ditada principalmente por estatais e pelo setor privado. “A competição de produtos importados desestimula investimentos em alguns setores da indústria, que ainda enfrenta uma elevada carga tributária. E não há contrapartida do governo, que tem uma estrutura engessada de gastos correntes e investe pouco”, explica Thais Marzola Zara, economista-chefe da consultoria Rosenberg & Associados. Ela diz que, sem as reformas tributária (que aliviaria o caixa das empresas) e previdenciária (que daria mais folga ao Tesouro), não haverá espaço para um aumento do investimento.

Dólar, juros e demanda

Nos últimos meses, a evolução da crise mundial fez os juros caírem e o dólar, subir, e aumentou os temores em relação à demanda, especialmente a externa. Os industriais acusaram o golpe: segundo sondagem da Fundação Getulio Vargas (FGV), pela primeira vez em dois anos predominam expectativas desfavoráveis para os próximos meses. E o governo federal, por mais publicidade que faça de programas como o PAC e o Minha Casa, Minha Vida, reduziu seus gastos em 9,7% neste ano, segundo dados acumulados até setembro.

Foco no serviço tornaria gasto mais eficiente

Infraestrutura não deve ser vista como sinônimo de obra, e sim de prestação de serviços à população. A adoção dessa premissa já na etapa de planejamento dos investimentos pode reduzir despesas e até mesmo dispensar determinadas obras. A avaliação é dos economistas Hélcio Tokeshi e Bernardo Tavares de Almeida, respectivamente diretor-geral e gerente da Estruturadora Brasileira de Projetos (EDP), uma empresa que tem como acionistas o BNDES e oito bancos privados.

“A nós, cidadãos, interessa menos a infraestrutura física que permita que tenhamos serviços públicos e mais a qualidade desses serviços”, afirmam Tokeshi e Almeida, em artigo do livro 2022: Propostas para um Brasil melhor no ano do bicentenário”. “Ao pensar no serviço abrimos o leque de alternativas técnicas para sua provisão, podendo inclusive chegar à conclusão de que não é necessária obra nova.”

Um dos exemplos que eles citam é a construção de metrôs, obra planejada por muitas prefeituras, inclusive a de Curitiba. Em vez de construir uma linha que ligue os subúrbios ao centro, dizem, o setor público deveria investigar se não é o caso de promover uma descentralização de serviços de saúde, comércio, lazer e outros, o que reduziria a necessidade de grandes deslocamentos. “Planejar mobilidade urbana é diferente de planejar isoladamente transporte via ônibus, metrô e trens”, afirmam.

Takeshi e Almeida compararam duas propostas de investimentos em logística e transporte. O plano elaborado pela Confe­deração Nacional do Trans­porte (CNT) a partir de su­­gestões pontuais de afiliadas, que indicaram necessidades imediatas em suas regiões, apontou a necessidade de investimento de R$ 291 bi­­lhões (sem prazo definido). Enquanto isso, o Plano Nacional de Logística e Transporte (PNLT), do Ministério dos Transportes, que selecionou projetos a partir do nível de serviço e da taxa de retorno, chegou ao valor de R$ 172 bilhões, a serem aplicados entre 2008 e 2023.

G do P

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Parmenas Alt
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