Faltam apenas sete dias para a cerimônia de abertura dos Jogos Pan-Americanos de Guadalajara. Mesmo assim, a organização da competição evidencia problemas que, se não chegam a ameaçar o evento, poderiam ter sido resolvidos com alguma antecedência. A pouco tempo do pontapé inicial do Pan, a capital do Estado de Jalisco se vê às voltas com tráfego confuso, obras inacabadas e outros não tão pequenos detalhes.
Uma mostra deste pequeno cenário de caos pôde ser visto na última quinta-feira, em entrevista coletiva de representantes do Comitê Organizador do Pan de Guadalajara (Copag). Com sete membros à mesa, diversos feitos foram lembrados ao longo do discurso. Porém, quando as perguntas foram abertas aos jornalistas da América Latina presentes, disparou a metralhadora de questões a respeito dos corredores de trânsito, de cambistas e dos problemas nas sedes.
O principal problema é o Estádio Pan-Americano de Atletismo. Reinaldo González, organizador do Pan de Havana (1991) e convidado do Copag, compareceu à entrevista com um discurso inflamado e otimista. Ali, apesar de admitir problemas com a obra, assegurou a entrega da mesma nesta sexta, e a posterior homologação da Federação Internacional de Associações de Atletismo (IAAF, em inglês) para o dia seguinte.
“A pista, motivo de preocupação para muitos, vai ter uma solução, uma resposta”, disse González – que compareceu à entrevista para substituir Jimena Saldaña de Aja, secretária geral do Copag, ausente. No dia da entrevista, porém, as obras na sede seguiam, com raias da pista ainda a serem pintadas e restos de entulhos espalhados por todos os lados. Esforços dos operários devem assegurar, a toque de caixa, o aval da IAAF.
No caminho dos espectadores até as sedes, outro problema pode surgir: o tráfego. Nas principais avenidas de Guadalajara foi implantada uma faixa especial, dedicada a carros credenciados para o Pan. A medida, porém, gerou insatisfação dos demais motoristas, que perdiam uma opção para a mobilidade urbana. Resultado: muitos deles seguiram passando pelas faixas em questão, os chamados “carriles”.
Vieram as ameaças de multa, e uma discussão pouco amistosa começou dos dois lados. Porém, o Copag e as autoridades de trânsito conseguiram uma solução que parece benéfica para os dois lados: liberou a faixa para a circulação, e pediu gentileza para os motoristas à frente de um veículo credenciado. “Se vemos um caminhão, vamos para o lado, como o fazemos normalmente com uma ambulância”, pediu Carlos Andrade Garín, diretor geral do Copag.
Por fim, outro ponto deixado à vista pelos dirigentes foi a fiscalização dos ingressos. Segundo Horário de la Vega Flores, diretor comercial do Copag, “três ou quatro sites” já foram flagrados revendendo bilhetes – na internet, apenas a empresa Ticketmaster é autorizada a fazê-lo. O comitê alega que, por enquanto, foram poucas as entradas descobertas, e reconhece que a fiscalização tem como foco principal a atividades durante as competições.
Legalmente, 500 mil ingressos foram vendidos (a carga total é de 700 mil). De la Vega já avisou que as entradas ilegais serão canceladas, mas isso não bastou para aplacar a ira de Carlos Andrade Garín ao ser informado que ingressos para o ensaio da abertura do Pan, que foram distribuídos gratuitamente a organizadores e estudantes, estavam à venda. “Se alguém estiver comprando, é idiota”, afirmou o diretor geral do Pan.
Os problemas, no entanto, não devem impedir Guadalajara de realizar o Pan a partir de 14 de setembro, e nem tiram o otimismo de dirigentes e moradores. Diante de sedes prontas e da chegada dos atletas, o Copag esbanja otimismo para a realização da “Olimpíada das Américas”, lembrando, inclusive, que 15 das modalidades em disputa classificarão atletas para os Jogos Olímpicos de Londres, em 2012.
“Para o continente americano, o Pan é cada vez mais forte. Isso é um grande incentivo para o esporte da América. Na América, na Ásia, na África, esses jogos são importantes para que os atletas olímpicos tenham uma importante preparação. Parece que este vai ser o caso do Pan de Guadalajara”, animou-se Ivar Sisniega Campbell, diretor de operações e esportes do Copag, otimista em meio ao turbilhão de contas a fazer.
TERRA