Os mercados de ações reagiram mal à aprovação da elevação do teto da dívida dos Estados Unidos. Apesar de muitos analistas terem apostado em recuperação quando saísse a notícia, as quedas de hoje indicam que os investidores já estão de olho no próximo problema: um mundo que crescerá menos. “O mercado está antecipando um crescimento mundial menor”, resumiu o gestor de recursos Valmir Celestino.
Logo após a decisão do Congresso, os índices de ações em São Paulo e em Nova York mantiveram as perdas que já apresentavam desde a abertura. Mas, ao se aproximarem do fechamento, ampliaram as quedas e fecharam com fortes quedas. O Ibovespa caiu 2,09% e fechou cotado em 57.310 pontos, menor nível desde 4 de setembro de 2009, quando encerrou em 56.652 pontos.
Nos Estados Unidos o comportamento dos índices foi o mesmo. Dow Jones fechou em baixa de 2,19%, Nasdaq de 2,75% e S&P500 de 2,56%. A aprovação do pacote, que deveria trazer alívio às bolsas, foi substituída por preocupações em relação a seus efeitos e à força do governo dos Estados Unidos para aprovar outras medidas, que serão necessárias.
“O ajuste fiscal incluído no pacote vai fazer o país crescer menos, o que deve afetar a economia mundial”, diz Celestino. “O mercado agora está preocupado com a implementação do plano no longo prazo”, continua Álvaro Bandeira, diretor da Ativa Corretora. “Há um efeito colateral real da aprovação de hoje: o pacote vai continuar deixando o governo e o presidente Barack Obama reféns do Congresso”, diz.
Em relatório, a Fitch também comentou que a aprovação é um primeiro passo na recuperação do país, mas não é o fim do processo para criar um plano de credibilidade para reduzir o déficit de recursos do país para um nível que assegure o rating AAA do país no médio prazo.
Os investidores viram na demora da aprovação um indício de enfraquecimento do poder do governo. Sob os termos do acordo, o limite seria ampliado em pelo menos US$ 2,1 trilhões – o suficiente para suprir a necessidade de financiamento do governo até 2012. Depois disso, o governo precisa voltar ao Congresso para pedir novas elevações.
Além disso, o acordo prevê cortes de US$ 1 trilhão, em dez anos. “O mercado fez a leitura de que a situação permanece tensa, já que o governo dos Estados Unidos precisará fazer cortes, num momento em que sua economia está frágil”, diz Bandeira.
Não bastasse a questão da dívida, os investidores também venderam ações após o Departamento de Comércio dos EUA divulgar que o índice de preços de gastos com consumo pessoal (PCE) caiu 0,2% em junho ante maio, a primeira redução em quase dois anos.
Na Europa, as bolsas fecharam em queda, com a volta dos receios com a crise da dívida na zona do euro, em especial na Itália, com a notícia de que autoridades italianas se reuniriam para discutir as turbulências no mercado. Além disso, o primeiro-ministro espanhol, José Luis Rodriguez Zapatero, cancelou suas férias para acompanhar de perto a situação da economia. Na semana passada, ele convocou eleições antecipadas no país.
O Ibovespa também sofre hoje com questões corporativas. Hypermarcas desmanchou 8% com perspectivas piores para seus números do segundo trimestre de 2011, que devem ser divulgados em 15 de agosto. A divulgação do balanço do Itaú, que veio abaixo do esperado, também prejudicou as ações, que recuaram 5,8%, entre as maiores perdas do Ibovespa, e as da Itaúsa caíram 5,2%.
Aline Cury Zampieri, iG São Paulo