O ator britânico Hugh Grant (“Um Lugar Chamado Notting Hill”, “Quatro Casamentos e um Funeral”) contou à BBC como decidiu gravar, escondido, uma conversa tida com um ex-editor do tabloide “News of the World”, envolvido atualmente em um “escândalo de grampos” de forte repercussão política.
O “News of the World” é acusado de ter pagado detetives para interceptar os telefones de centenas de celebridades como também de familiares de vítimas dos atentados de 7 de julho de 2005, em Londres, e de vítimas de crimes famosos, como a menina Milly Dowler, que desapareceu em 2002, aos 13 anos, e depois foi encontrada morta.
Hugh Grant, alvo comum dos tabloides britânicos, contou que, no final do ano passado, se deparou com um paparazzo ao sair de seu carro, que havia acabado de quebrar em uma rodovia. Sem conseguir alternativas para sair da rodovia, acabou aceitando uma carona do paparazzo, que era Paul McMullan, um ex-editor do “News of the World” e um dos jornalistas que vieram a público revelar que era comum a prática de escutar conversas telefônicas de políticos, celebridades e pessoas de interesse midiático na Grã-Bretanha.
Dias depois, Grant foi ao pub de McMullan e, com um gravador escondido, registrou uma conversa com o jornalista. Este diz acreditar que até o premiê britânico, David Cameron, poderia ter conhecimento dos grampos, mas que teria sido omisso, como os demais premiês do país, por conta do poder de Robert Murdoch, dono do conglomerado midiático News Corporation (News Corp.), do qual o “News of the World” faz parte.
Nesta quarta, Cameron pediu a abertura de uma investigação independente sobre o escândalo envolvendo o News Corp e chamou os grampos telefônicos de prática “asquerosa”.
“Encomendas”
Em abril, Grant havia relatado a conversa gravada em um artigo escrito ao periódico “New Statement”. Nele, Grant diz ter ouvido de McMullan que o ex-editor do “News of the World”, Andy Coulson, “sabia de tudo e regularmente encomendava (que telefones fossem grampeados)”.
Coulson renunciou ao comando do tabloide em 2007, após um de seus repórteres e um detetive terem sido condenados por grampear telefones de integrantes da família real britânica.
“Ele (Coulson) não queria só a história de uma celebridade que tinha feito algo. Ele queria ter a certeza que elas nunca poderiam processar (judicialmente o jornal), então queria que nós ouvíssemos celebridades como você (Grant) dizendo em uma gravação: “Olá, querido, o sexo foi ótimo na noite passada””, disse McMullan, segundo o relato de Grant.
No início deste ano, Coulson renunciou ao cargo de porta-voz do primeiro-ministro britânico, após novas denúncias envolvendo jornalistas do “News of The World” e outras tentativas de invadir os telefones de políticos e celebridades. Os proprietários do “News of the World” entregaram à polícia e-mails que indicariam que o pagamento pelas escutas teria sido autorizado por Coulson.
“Divertido”
Segundo McMullan, os grampos começaram “como uma diversão”, com o uso de scanners que filtravam conversas telefônicas. Ele também defendeu a legitimidade da prática.
“Os jornalistas podiam ouvir políticos corruptos, e é por isso que temos uma sociedade razoavelmente justa. Você acha justo que só o governo tenha hoje um scanner digital decente? Sendo que há 20 anos (antes de o scanner ser vetado) todos tínhamos uma chance? Você fica confortável com o fato de que as únicas pessoas que podem ouvi-lo hoje são os serviços secretos britânicos?”
Na quarta-feira, Grant e McMullan participaram, juntos, de um programa da BBC, em que o jornalista confirmou a versão do ator sobre o ocorrido e disse acreditar que o público britânico tolera o grampo a celebridades. “É parte do jogo” para obter informações relevantes, opinou.
Grant reagiu: “Você acha que os parentes de Milly (Dowler) acham que isso (os grampos ao telefone da menina) é parte do jogo?”
O escândalo das escutas telefônicas surgiu em 2006, mas ganhou novo fôlego nesta semana com novas denúncias, inclusive de que policiais britânicos teriam recebido dinheiro em troca de informações.
Nesta quarta-feira, Murdoch disse que as alegações de interceptação telefônica e de pagamentos a policiais envolvendo o seu jornal são “deploráveis” e “inaceitáveis”.
O magnata afirmou que a diretora executiva da News Corp., Rebekah Brooks – que era editora-chefe do “News of the World” à época das supostas escutas -, continuará no cargo.
O “News of The World” é o jornal mais vendido aos domingos na Grã-Bretanha, com uma circulação média de quase 2,8 milhões de exemplares.