Mas uma autoridade sênior do Irã afirmou que a suspensão do enriquecimento de urânio não vai resolver o impasse nuclear.
O vice-chefe da Organização de Energia Atômica do Irã, Mohammad Saeedi, sugeriu em contrapartida que a França invista na indústria atômica do país, o que permitiria a Paris supervisionar o trabalho de Teerã. Propostas similares de investimento estrangeiros no passado não tiveram resultados.
O chefe da política externa da União Européia (UE), Javier Solana, vem conversando com o Irã para tentar convencer o país a suspender o enriquecimento. Estão planejadas mais negociações, mas Solana disse que ainda não foi alcançado um acordo sobre a suspensão e que os debates não podem continuar para sempre.
“Continuamos com a esperança de que o Irã suspenda suas atividades de enriquecimento, mas não temos evidência de que fará isso”, disse a secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice, em entrevista coletiva durante visita à Arábia Saudita.
“Se não suspender, a única alternativa para a comunidade internacional será cumprir os termos da resolução 1696…e isso significa sanções.”
O Irã não suspendeu o enriquecimento até o dia 31 de agosto, prazo estabelecido pelo Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), mas os pedidos dos EUA por ações rápidas em direção a sanções encontraram resistência de países europeus, que preferem mais negociações, e oposição da Rússia e da China.
O Irã, quarto maior exportador de petróleo do mundo, rejeita as ameaças de sanções. E o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, repetiu nos últimos dias que o país não abrirá mão de seu direito à tecnologia nuclear.
“MELHOR SOLUÇÃO”
Mas o presidente não é a figura mais poderosa no sistema iraniano, o que dá a palavra final ao líder supremo, o aiatolá Ali Khamenei. As negociações estão sendo conduzidas por Ali Larijani, que se reporta ao líder.
“A melhor solução para acabar com as preocupações sobre as intenções nucleares do Irã não é exigir que o Irã suspenda as atividades de enriquecimento de urânio”, disse Saeedi à Reuters.
“Temos uma idéia do que pode ser a melhor solução, tecnicamente e legalmente. A França pode criar um consórcio, como Eurodif e Areva, para produzir urânio enriquecido no Irã”, disse Saeedi. “Através de uma participação deste tipo, eles também poderiam monitorar nossas atividades de perto.”
A estatal francesa Areva é dona da Eurodif, maior usina de enriquecimento de urânio da Europa. Um porta-voz da Areva disse que a empresa não está ciente da proposta. O Ministério das Relações Exteriores da França disse apenas que está concentrado nas negociações entre Solana e Larijani.
O Irã propôs em outras ocasiões que países investissem em sua indústria nuclear para evitar suspeitas. Mas a proposta prevê a continuidade do enriquecimento de urânio em solo iraniano, o que o Ocidente rejeita, porque daria conhecimento atômico militar ao país.
(Com reportagem de Mark John na Finlândia, Arshad Mohammed na Arábia Saudita e John Boyle em Paris)