sábado, 23/11/2024
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Cine Teatro Cuiabá: Orquestra de MT lança disco no aniversário de Cuiabá

Tradicionalmente no aniversário de Cuiabá, a Orquestra do Estado de Mato
Grosso prepara espetáculos que homenageiam a capital mato-grossense. Em 2010
apresentou o *Concertino para viola de cocho e orquestra*, peça encomendada
especialmente para o instrumento pantaneiro solar. Este ano, no 292°
aniversário da cidade, a OEMT utilizará em meio aos instrumentos clássicos
da música de concerto, um folclórico berrante.

Os concertos que comemoram a cidade de Cuiabá ocorrem nos dias 8 e 9 de
abril, no Cine Teatro Cuiabá, sempre às 20 horas e fazem parte da
programação organizada pela Secretaria de Estado de Cultura para celebrar o
aniversário da capital. Essas apresentações marcam o lançamento do terceiro
álbum da Orquestra de Mato Grosso, intitulado “O Berrante Pantaneiro”, que
apresenta composição homônima do músico e pesquisador de tradições
culturais, Guapo. “Vivi muito tempo na fazenda trabalhando com gado. O toque
do berrante me encanta desde a infância, e o toque do Chico [do Berrante] me
inspirou na sinfonia. Eu coloquei apenas quatro toques, mas existem muitos
outros”, explica Guapo.

A sinfonia *Berrante Pantaneiro* apresenta quatro movimentos inspirados em
toques característicos do instrumento: Toque de Debandada [primeiro toque da
madrugada, estimula a boiada a andar]; Toque de Agradecimento [gratidão ao
fazendeiro que permitiu a pernoite do gado e peões em suas terras, ou porque
comprou o gado e está levando para outro lugar, ou ainda, um toque
tradicional para o gado não emagrecer]; Toque Aviso de Perigo [alerta os
peões e distrai a boiada para o perigo eminente de onça, cobra ou enxame de
abelhas]; Toque Pasto, Sombra e Água Fresca [quando o ponteiro – peão que
segue na frente dos bois – encontra um pasto bom para descansar ou
pernoitar. O toque convence o gado a parar].

‘Berrante Pantaneiro’ foi escrita em 2002 e gravada no ano de 2010,
inspirada nos diferentes toques de berrante – uma espécie de buzina feita de
cornos de animais -, eficaz na orientação, defesa e comando do gado,
instrumento muito utilizado por vaqueiros para conduzir a boiada e se
comunicar à distância nos pastos do Brasil. A responsabilidade de empunhar o
berrante em meio a violinos, violas, violoncelos, contrabaixo e percussão
fica a cargo de um dos mais folclóricos tocadores do instrumento, o
cacerense e ex-peão Chico do Berrante. “O Chico possui o maior berrante do
mundo, com 1, 65 metros de comprimento e 50 cm de boca. Já foi duas vezes
campeão do concurso de berrante em Barretos, a maior festa de peão do
Brasil”, diz Guapo.

O berrante é um instrumento de sopro de grande e médio porte, dotado de
escalas e tonalidades distintas, capaz de emitir códigos de comunicação com
os animais e entre os peões, como o toque de abertura da porteira, retirada
da querência, balanço da boiada, aviso de encruzilhada, dentre outros. “Tem
também o toque de pastoreio, que significa a sequencia da viagem, pondo o
gado no estradão novamente. Mas o bonito mesmo é o fim da jornada, o toque
de debandada, que indica que os vaqueiros vão voltar para casa depois do
trabalho cumprido”, explica Chico do Berrante.

*
O compositor*

Nascido em 1951 em Cáceres – Mato Grosso, Milton Pereira de Pinho Guapo é
filho de pai violeiro e tio cantor – que se expressava em várias línguas
como o português, espanhol e guarani. Sua avó paterna, Yolanda Widal de
Pinho era pianista, seu avô materno, Zacarias Pereira de Limaeracururueiro
[Violeiro Folclórico].

Guapo teve uma educação musical bem colocada pelo pai professor, matemático
e físico, que considerava importante educar os ouvidos com todo tipo de
musica, para distinguir a qualidade. A sua vivência no Pantanal com a
riqueza sonora, sons de pássaros e animais influenciaram Guapo
decisivamente, bem como a vivência no meio popular, bailes, festas de santo
e outros festejos populares. De sua mãe, Maria de Lima Pinho, lavadeira
ribeirinha, herdou e aprimorou o gosto popular pelas lendas e mitos
ribeirinhos.

A mistura da influência paterna e materna provocou o vivo interesse pela
ciência e pela sensibilidade do conhecimento empírico popular, que lhe
suscitou o jeito autodidata de músico e pesquisador. Com dezoito anos,
começou a tocar violão e nunca mais largou. Depois viveu em Goiânia e no Rio
de Janeiro onde pesquisou o samba no Morro do Estácio. Em 1976, mudou-se
para São Paulo e tornou-se funcionário da extinta FEPASA – Ferrovia Paulista
S/A. Conheceu a música sertaneja de raízes e nas férias de trabalho
pesquisou a música latino-americana, buscando as raízes dos rasqueados
mato-grossense, viajando pelo Paraguai, Argentina e Bolívia.

Em 1985, já em Cuiabá, uniu seus conhecimentos com Vera Bagetti, Zuleica
Arruda e Marques Caraí, nascendo daí a ideologia musical, Vanguarda
Nativista. Depois de representar Mato Grosso em varias partes do país e
fora, em 1994 suas musicas *Canto Guacho *e* Velho Chamame* foram trilhas
musicais do seriado A Lenda, das extinta TV – Manchete, dirigida porMarcos
Schechtman [hoje diretor na Rede Globo]. Em 1996 grava seu primeiro CD
– *Pantanal
Branco e Preto,* em 2000 grava o segundo chamado *Resto de Guarania*. Foi
compositor de várias trilhas musicais para cinema como: *Animando o Pantanal
* pelo Núcleo de Cinema de Campinas-SP, premiado na China no Festival Anima
Mundi em 1990. Também fez trilha para os filmes *Rondon o Ultimo dos
Bandeirantes, Baile Pantaneiro, Divisão de Mato Grosso, O poeta Silva
Freire, *dentre outros*. *É autor do livro *Remedeia co que Tem*, um
mapeamento histórico musical da música mato-grossense. Idealizou e coordenou
o projeto Rua do Rasqueado que resgata a dança popular mato-grossense. Foi o
primeiro músico mato-grossense a representar o Estado no evento *“Mato
Grosso States Cultural”, *realizado em novembro de 2005, em Washington-DC,
com o show-recital: *Searching For The Lost River* , fechando a quinzena
cultural de Mato Grosso nos Estados Unidos.

* *

*
Serviço:

*Concertos Oficiais Orquestra do Estado de Mato Grosso
Lançamento de “O Berrante Pantaneiro”
Dias:
08 de abril, sexta-feira, às 20h.
09 de abril, sábado, às 20h.
Ingressos: Bilheteria do Cine Teatro Cuiabá, a partir de terça-feira, das
14h às 18h. Na sexta-feira e no sábado, das 14h até o início dos concertos.
Valor: 10 reais e 5 reais (meia).

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Parmenas Alt
Parmenas Alt
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