Os países ricos devem estimular o consumo interno, como fizeram as nações emergentes, pois, se incentivarem apenas as exportações como forma de sair da crise “o mundo vai à falência”. O alerta foi dado nesta quinta-feira (11) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que chegou a Seul (Coreia do Sul) para a reunião de cúpula do G20 (grupo que reúne representantes de países ricos e dos principais emergentes).
Ao contrário das nações emergentes, que adotaram políticas de incentivo ao consumo, como descontos e cortes em impostos, os países ricos, “que têm uma margem de manobra menor sobre o consumo” fizeram contenção de gastos, afirmou o presidente.
Mas se eles [os países desenvolvidos] não consumirem e se quiserem apostar apenas nas exportações, o mundo vai à falência (…) Todo mundo quer ganhar mais com mais exportação. Mas não é possível apostar apenas nisso.
Lula disse que os países emergentes “não suportam ser responsáveis pelo consumo e pela produção ao mesmo tempo”. Em seguida ele pediu um acordo no G20 para ações de consenso destinadas a corrigir os desequilíbrios cambiais que afetam o comércio mundial.
O presidente foi questionado sobre a alternativa de uma cesta de moedas para substituir o dólar como moeda de referência, e disse que o Brasil trabalha nesta possibilidade com China, Rússia e Índia.
Desde o ano passado estamos discutindo no BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), para fazer comércio em nossas moedas. Isto é fácil de falar, mas estamos tão acostumados a trabalhar com o dólar que há medo de fazer algo novo (…) Mas o dólar não pode continuar sendo uma moeda de referência se é feito por apenas um país. Tem que haver outras possibilidades de referência.
Protecionismo
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse, por sua vez, que se o G20 não alcançar um acordo que permita evitar as manipulações cambiais, o mundo seguirá para um “protecionismo comercial”.
– É preciso obter acordos sobre moedas-chave, já que se cada um se defender e cada um manipular o câmbio, isto leva os países que têm mercado a tentar protegê-los (…) Se o desequilíbrio cambial não for contido, os países que têm excesso de dólares deverão adotar medidas defensivas de controle de capital.
Guerra cambial é a expressão para designar o atual processo de desvalorização do dólar nas economias mundiais. Essa desvalorização do dólar tem, como reflexo, a valorização das moedas de outros países; isso torna os produtos desses países mais caros no mercado global – portanto, menos competitivos.
Desde a crise financeira de 2008, a moeda norte-americana tem influenciado de forma negativa o comércio exterior, já que com o dólar barato, os outros países têm perdido competitividade nas exportações (venda de produtos).
Para combater o dólar fraco e manter a balança comercial positiva, os países desvalorizam a sua moeda. Isso significa que, para se proteger da circulação excessiva de dólar no mercado, alguns países, como a China, mantêm suas moedas ainda mais baratas.