Um dia depois de a corrida presidencial deste ano ser levada ao segundo turno, PT e PSDB correm para reorganizar suas estratégias e traçar os planos para tentar viabilizar uma vitória na nova fase da disputa. Ontem, enquanto o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ainda contabilizava os últimos votos, os dois lados já convocavam reuniões das equipes de coordenação, para reformular agendas e definir a linha que será dada às campanhas a partir de agora.
A ordem, tanto na equipe da ex-ministra Dilma Rousseff (PT) quanto entre aliados do ex-governador José Serra (PSDB), é definir o quanto antes os pontos fortes que podem ajudar a ampliar a vantagem em relação ao adversário. As duas campanhas terão até o próximo dia 31, data da votação do segundo turno, para ganhar fôlego e garantir o resultado nas urnas.
Do lado do PSDB, predomina a preocupação em não repetir erros que custaram as eleições presidenciais de 2002 e 2006. Nos dois casos, o partido conseguiu chegar à segunda etapa, mas perdeu a eleição na reta final. Dentro da legenda, é consenso que o ex-governador de Minas Aécio Neves (PSDB), agora eleito para o Senado, será peça-chave na estratégia.
Assim que começou a se confirmar a ida ao segundo turno, o nome de Aécio, que recusou a vaga de vice na chapa de Serra, voltou a ser citado como possível coordenador da campanha. Houve até quem cogitasse a possibilidade de uma troca de vice, para fortalecer a chapa de Serra.
Secretário geral da Executiva Nacional do PSDB e representante de Aécio na cúpula tucana, o deputado reeleito Rodrigo de Castro (MG) logo investiu na tese de que o mineiro não deve entrar no comando da campanha. O aliado diz preferir vê-lo como uma espécie de cabo eleitoral de luxo de Serra.
“Coordenação de campanha é carregar piano. Aguentar reclamação. Não vejo o Aécio num papel desses. Ele tem de pedir voto, fazer um apelo e percorrer o país como um fato novo na campanha do Serra”, afirmou Castro ao iG na noite deste domingo.
Na campanha petista, a ordem é demandar do presidente Luiz Inácio Lula da Silva um esforço ainda maior para eleger a candidata. Dias antes da eleição, quando começou a crescer a possibilidade de segundo turno, petistas já se queixavam internamente da postura adotada pelo presidente durante a campanha. Avaliavam que Lula exagerou na dose em comícios e discursos, tirando de Dilma o papel de protagonista da campanha.
A presença do presidente, de qualquer forma, continuará marcante nos programas gravados para o horário eleitoral gratuito, sob comando do marqueteiro João Santana. Com o aumento do tempo de televisão de Serra na nova etapa da disputa, o contraponto à ação liderada pelo chefe da comunicação tucana, Luiz González, também deve ganhar importância na nova etapa.
Cabos eleitorais
Além de contarem com os dois principais cabos eleitorais, Dilma e Serra terão agora à disposição da campanha aliados que venceram as disputas estaduais neste domingo. O time tucano ganhou a chance de exaltar as vitórias de Antonio Anastasia, eleito em Minas Gerais com 62,7% dos votos, e Geraldo Alckmin, que levou a disputa em São Paulo com 50,6%. A conta inclui ainda o governador eleito do Paraná, Beto Richa, que conseguiu se eleger com 52,4% dos votos.
Petistas, por sua vez, comemoram a vitória na Bahia, com os 63,8% dos votos obtidos pelo governador Jaques Wagner, e no Rio Grande do Sul, onde o ex-ministro da Justiça Tarso Genro voltou ao governo com 54,4% dos votos. De quebra, a sigla terá a ajuda do aliado peemedebista Sérgio Cabral, que venceu a disputa pelo governo do Rio de Janeiro com 66% dos votos.
Cofre
Na segunda etapa das campanhas, tucanos tendem a intensificar a busca por recursos, que acabou prejudicada na primeira fase da eleição. Diante do favoritismo de Dilma nas pesquisas de intenção de voto, aliados de Serra queixavam-se recorrentemente nos bastidores da dificuldade de levantar doações. As promessas, diziam, sempre existiram. Mas em muitos casos não se concretizaram.
Na última prestação de contas, entregue à Justiça Eleitoral no início de setembro, tucanos diziam ter arrecadado R$ 26 milhões. Na mesma época, o cofre de Dilma contava R$ 39,5 milhões.
Nos dois casos, entretanto, a verba foi praticamente toda comprometida na primeira etapa da campanha. Nas mesmas declarações, PSDB e PT alegaram ter gasto, respectivamente, R$ 25,2 milhões e R$ 38,9 milhões.
*Colaboraram Ricardo Galhardo, enviado a Porto Alegre e Brasília, e Patrick Cruz, iG São Paulo