A queda na desigualdade social do país pode ter um componente que não é positivo, afirma o Radar Social, publicação do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
O total de renda ganha pelos trabalhadores brasileiros caiu 23% desde a década passada. “O bolo diminuiu”, afirma José Celso Cardoso, pesquisador do Ipea. “Hoje você tem uma massa menor, que se distribui por mais trabalhadores”. Por isso, a desigualdade entre essas pessoas diminuiu, explica Cardoso.
Em 1990, todos os salários recebidos por empregados (com registro em carteira, informal ou autônomo) representavam 52% de toda a renda nacional, segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 2004, o ganho de todos os trabalhadores representava 40% da renda nacional.
Ou seja, dividir menos renda para mais pessoas reduziu a disparidade. Cardoso também atribui essa queda na taxa de desigualdade aos aumentos no salário mínimo e à distribuição de bolsas sociais do governo.
Além da queda da renda geral, o pesquisador ressalta que as pesquisas ainda não estão conseguindo enxergar onde está se acumulando a maior parte da riqueza nacional.
Enquanto caiu a participação dos salários na economia, o ganho de empresas e rendimento com juros subiram de 32% para 43% da renda nacional. “Se você olhar da perspectiva da distribuição da renda como um todo, os rendimentos do trabalho perderam espaço em relação aos lucros e aos impostos”, destacou.
“Se forem consideradas as pessoas que vivem, por exemplo, de juros, lucros, aluguéis, ações, e a conta for refeita, na verdade, não houve redução na desigualdade de renda”, afirma.
Segundo José Celso Cardoso, esse grupo de pessoas não é incluído no estudo, por não ter rendimentos de maneira formal. O estudo do Ipea destaca que o ganho dos mais ricos “é subestimado”, pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), feita pelo IBGE. Segundo o Ipea, a pesquisa “capta apenas parcialmente os rendimentos dos domicílios mais ricos”.
AB