quinta-feira, 21/11/2024
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Consumidor quadruplica renda com crédito fácil

Antes era preciso conversar com o gerente, esperar dias pela análise de crédito e ainda correr o risco de ter o pedido negado. Com o cenário econômico favorável, tomar um empréstimo ficou tão fácil que nem é mais preciso ir ao banco.

Dados obtidos pela reportagem com os bancos e com correntistas mostram que, com os limites concedidos hoje, os clientes conseguem pelo menos quadruplicar sua renda nas cinco maiores instituições do país, considerando empréstimos no cheque especial, crédito pessoal e cartão de crédito.

A facilidade do empréstimo pré-aprovado, retirado diretamente no caixa eletrônico, vem aumentando o poder de compra do brasileiro e o consumo de bens duráveis, como TV, geladeira e máquina de lavar. Por outro lado, estimula as decisões por impulso e pode levar ao endividamento excessivo.

Nilton Pelegrino, diretor de empréstimos do Bradesco, compara a importância do crédito ao sangue para os seres humanos. “Se for dado um litro a mais, mata o cliente.”

Impulsionado por essa mola, o consumo das famílias cresceu pelo sexto ano seguido em 2009, quando ainda ajudou a amortecer a queda do PIB (Produto Interno Bruto) causada pela crise global. “Para a economia como um todo, é bom. Para o indivíduo, pode ser ou não”, afirma o educador financeiro Mauro Calil.

Na opinião do ex-diretor do Banco Central e economista-chefe da CNC (Confederação Nacional do Comércio), Carlos Thadeu de Freitas, uma forma de fazer com que esse consumo seja feito de forma mais consciente é criar obstáculos.

“As crises mundiais mostram que é preciso haver algum constrangimento para tomar dinheiro emprestado”, afirma, referindo-se ao uso equivocado de linhas com juros altos que poderiam ser substituídas se o consumidor conhecesse melhor os produtos oferecidos.

Pesquisa da entidade com 17.800 consumidores em todo o país aponta que o percentual de famílias endividadas que usam o cartão de crédito como uma das formas de financiamento subiu de 69,8% em abril para 71,2% neste mês, contribuindo para a elevação da quantidade das inadimplentes (de 24,4% para 25,1%).

Esse tipo de empréstimo tem juros médios de 10,7% ao mês para quem cai na armadilha do pagamento mínimo, ante 2,4% do CDC, por exemplo.

Assim como Pelegrino, Rogério Estevão, superintendente de empréstimos pessoais do Santander, reitera a necessidade de ensinar os consumidores a tomarem crédito conscientemente, o que viabiliza o crescimento da carteira de forma sustentável, ou seja, sem elevação da inadimplência. “O aprendizado é nosso também”, diz Estevão.

Entre fevereiro de 2007 e de 2010, a concessão de crédito pessoal passou de R$ 83,4 bilhões para R$ 165,5 bilhões. No mesmo período, o número de brasileiros com dívidas acima de R$ 5.000 dobrou, atingindo 25,7 milhões, segundo o Banco Central –não há acompanhamento abaixo desse valor.

A inadimplência considerando atrasos acima de 90 dias, porém, permaneceu no mesmo nível (7,3%). Apesar da estabilidade, Luiz Rabi, da Serasa Experian, ressalta que os consumidores devem ficar atentos. Quem usa linhas “emergenciais” como crédito de longo prazo, afirma, “mais cedo ou mais tarde vai ficar inadimplente”. E resume assim a euforia com a oferta de crédito: “Aprecie com moderação.”

Solução X problema

A facilidade para tomar empréstimos alterou o orçamento da coordenadora financeira Cassia Bastos, 35, e da supervisora de recuperação de crédito Suelen da Silva, 21, de formas opostas.

“Já usei o crédito pré-aprovado várias vezes. Em uma emergência, você não tem de onde tirar o dinheiro”, conta Cassia. “Mas sempre dei um jeito de economizar e quitar as parcelas antes, porque isso barateia o empréstimo.”

Para Suelen, porém, o financiamento acabou gerando problemas sérios. “Peguei um empréstimo de R$ 1.200 para quitar dívidas em cartões de crédito. Não quitei nenhuma e ainda acabei com mais um débito”, diz ela, que perdeu o emprego logo depois.

Sem pagar as parcelas por um ano, Suelen acabou com uma dívida de R$ 5.000. “Eu não sabia que isso podia crescer tanto.” O débito acabou sendo renegociado e ficou em R$ 3.500, já quitados.

Para Suelen, quem se endivida em excesso é “culpado”, mas os bancos poderiam dar mais informações
“A conscientização do consumidor é dever de todos”, ressalta Roberto Pfeiffer, do Procon-SP.

Para Mauro Calil, “o acesso à informação ainda é limitado e existe pouco interesse do próprio tomador em se educar financeiramente”.

F.Online
GIULIANA VALLONE
TATIANA RESENDE

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Parmenas Alt
Parmenas Alt
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