A Petrobras está avaliando a possibilidade de entrar como parceira ou mesmo comprar a totalidade da distribuidora de gás natural de Mato Grosso (MT Gás) e com ela a usina termelétrica de Cuiabá. A proposta alinhavada pelo governo federal e pelo governo de Mato Grosso visa tentar salvar o abastecimento de gás no Estado e atrair os investimentos de US$ 2 bilhões previstos para uma unidade de fertilizantes da estatal.
A informação que estava circulando entre fontes do setor há algumas semanas, foi confirmada hoje por Pedro Nadaf, secretário de Indústria, Comércio, Minas e Energia do Estado de Mato Grosso. O abastecimento de gás no Estado está ameaçado porque o contrato para receber o gás boliviano – que terminava no dia 28 de fevereiro – foi prorrogado até no máximo o dia 20 de março. O governo boliviano se nega a renovar o contrato porque não quer manter relações comerciais com as empresas Ashmore e Shell, controladoras da Empresa Pantanal de Energia, proprietária da usina térmica local.
Em discurso esta semana sobre o assunto, após visita a Cuiabá, o presidente da estatal boliviana YPFB, Carlos Villegas, deixou nítida a preferência por relações comerciais diretas com a Petrobras. Villegas criticou a postura das duas companhias internacionais junto ao governo boliviano anterior, quando negociaram o preço do gás bem abaixo do mercado internacional.
“Encaminhamos à Petrobras três possibilidades: que ela passe a fornecer o gás, participe da composição acionária da usina, ou mesmo que arremate a usina. Neste caso, o governo estadual de Mato Grosso se dispõe a abrir mão do controle acionário da sua distribuidora para que a estatal possa desenvolver este mercado”, disse o secretário. Procurada para esclarecer seu posicionamento na negociação, a Petrobras informou por meio de sua assessoria de imprensa que “não negocia pela imprensa”.
Segundo fontes ligadas ao setor, a estatal tem interesse naquele mercado, apesar de a usina térmica lá instalada não ter uma produtividade considerada excelente no setor. A usina consome 2,2 milhões de metros cúbicos de gás natural diariamente para produzir 450 MW de energia, enquanto outras do mesmo porte utilizariam menos de 1 milhão de metros cúbicos.
O principal interesse estatal é a perspectiva de instalar naquela região uma fábrica de fertilizantes. O baixo custo de transporte do gás que chega até Mato Grosso pelo Gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol) e os incentivos que o governo local têm oferecido para atrair os investimentos somam-se à localização estratégica da unidade, próxima a mercado consumidor do Centro-Oeste. Além disso, a companhia ainda teria potencial para expandir o mercado local dos atuais 30 mil metros cúbicos diários de gás para até 7,5 milhões, segundo cálculos de especialistas do setor.
Hoje, caso o abastecimento seja suspenso no Estado, o impacto é mínimo. São 30 mil metros cúbicos diários consumidos em veículos e principalmente no abastecimento de parte da fábrica da Sadia, que possui a opção de utilizar também o óleo diesel ou óleo combustível em sua unidade.
AG.EST