quinta-feira, 07/11/2024
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Trabalho de mapeamento levanta situação dos ninhais no Pantanal Mato-grossense

A Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema) por meio da Coordenadoria de Fauna e Recursos Pesqueiros realiza o monitoramento e mapeamento dos ninhais. O trabalho é desenvolvido desde setembro de 2006 e, de lá pra cá, vem sendo feito monitoramentos nos períodos de cheia e seca do Pantanal Mato-grossense e, ao final de cada trabalho, um relatório é montado com base nos estudos apurados. O período da cheia corresponde aos meses de março, abril, maio e junho. Os meses considerados secos são: julho, agosto e outubro.

No pantanal, as colônias de nidificação de aves aquáticas em árvores são conhecidas regionalmente como viveiros ou ninhais. Os viveiros podem ser formados por biguás, biguatingas e bagaris (ninhal preto) ou por garças, colhereiros e cabeças-secas (ninhal branco).

O analista de meio ambiente, Marcos Roberto Ferramosca Cardoso, explicou que “o objetivo desse trabalho é mapear as áreas de ocorrência de ninhais na região do Pantanal, identificando as atividades que possam estar comprometendo a reprodução das aves e a consequente conservação destas áreas visando o desenvolvimento do potencial turístico e a produção de material científico, informativo e educativo sobre esses ninhas”.

Marcos Roberto citou a importância da contribuição das pessoas nos trabalhos realizados nos ninhais. “A Sema e a Coordenadoria contam com a parceria e colaboração de várias fazendas, pousadas, hotéis, instituições e moradores da região do Pantanal”, afirmou.

Os trabalhos são realizados nos municípios de Poconé, Barão de Melgaço, Nossa Senhora do Livramento e Cáceres. As atividades consistem na observação in loco do ninhal e no registro das informações em fichas individuais.

Este ano foram realizadas campanhas no período de cheia nos dias 13 a 20 de março; 02 e 03 a 18 de abril; 04, 18 a 23 de maio, e 03 de junho. No período da seca as campanhas aconteceram de 21 a 30 de julho; de 10 a 16 de agosto e de 15 a 19 de outubro.

Nos meses de março a junho, que compreendem ao período de cheia e vazante no pantanal mato-grossense, foram monitorados 20 (vinte) ninhais, sendo 3 (três) deles registrados pela primeira vez pelas equipes de monitoramento. A maioria foi acessível por via fluvial, com barco motorizado (16) e canoa/zinga (2), sendo os demais por via terrestre, com caminhonete (1) e cavalo (1).

Os Ninhais da Santa Elvira, Guatambu, Presidente, São Cristóvão e Moranguinha, já visitados nos anos anteriores, não puderam ser monitorados nesta época porque os campos e canais (corixos) de acesso estavam sujos ou entupidos, o que impossibilitou o acesso, ou seja, nesses locais, os campos ou pastagens estavam inundadas e a vegetação cresceu acima do nível da água, dificultando a navegação. No caso dos corixos, seus leitos estavam cobertos por grande quantidade de plantas aquáticas (geralmente água-pés) ou camalotes (ilhotas flutuantes formadas de troncos soltos, raízes e plantas aquáticas que descem os rios à mercê da corrente).

Nos meses de julho a outubro, que compreende o período de seca no pantanal mato-grossense, foram monitorados apenas 14 (quatorze) ninhais. A maioria foi acessível por via fluvial, com barco motorizado (12), e os demais por via terrestre, com caminhonete (2).

Os ninhais brancos, típicos dessa época do ano, não estavam ativos. Por este motivo os técnicos optaram por apenas contatar outros proprietários e responsáveis para saber informações referentes à atividade dos demais ninhais em suas propriedades.

Como resultado das atividades de monitoramento no período da cheia, os técnicos observaram atividade reprodutiva das seguintes espécies: biguás (Phalacrocorax brasilianus), biguatingas (Anhinga anhinga) e baguaris (Ardea cocoi), que formam o típico viveiro ou ninhal preto.

Já em relação aos 8 ninhais inativos, dois foram registrados pela primeira vez, sua existência só será confirmada no próximo ano de monitoramento.

Observaram ainda que três ninhais estavam ativos no ano anterior e três são conhecidos tipicamente como “ninhais brancos”, mas foram visitados apenas para descartar a hipótese de formação de um ninhal preto na mesma área.

“Este ano observamos um atraso das “chuvas” e do pico da cheia no pantanal, também relatado pelos moradores na região, que parece ter influenciado a reprodução das aves. Em abril do ano passado, por exemplo, as aves estavam em plena atividade reprodutiva, inclusive com filhotes já grandes e emplumados, enquanto que em abril e maio deste ano a maioria ainda estava construindo seus ninhos ou realizando a postura. Algumas dessas aves estenderam sua atividade até o final de julho e início de agosto, enquanto que no ano passado a atividade terminou no mês de junho e início de julho”, explicou Marcos Roberto.

O técnico explicou também que um dos viveiros foi abandonado após a construção dos ninhos e, em geral, foi observada uma redução no número de ninhos em relação ao ano anterior.

De acordo com Marcos Roberto, a maioria dos ninhais monitorados não apresentou nenhuma ameaça antrópica aparente, devido provavelmente à dificuldade de acesso. A principal ameaça observada para alguns deles foi a atividade de captura de iscas vivas e a navegação intensa (pesca ou turismo). O fogo representa ameaça para os sítios de reprodução somente na época da seca, podendo destruir as árvores utilizadas para nidificação.

“Visitamos duas novas áreas, relatadas no ano passado como possíveis ninhais, mas não encontramos nenhum indício de sua presença”.

Já no período da seca, os 14 ninhais brancos monitorados estavam inativos e outros 9 ninhais não foram monitorados, porém os proprietários e responsáveis por estas áreas relataram que os mesmos também estavam inativos. As áreas estão localizadas nas fazendas Morada da Serra, Campo do Meio, Santa Elvira, Botucatu, São Vicente (ninhal novo) e Pirizal (ninhal novo), um sítio na região de Mimoso (ninhal novo), RPPN SESC Pantanal e outra propriedade não identificada.

“Nesse período observamos uma fase de seca atípica no pantanal. Os campos e as baías permaneceram mais tempo alagados e, além disso, as chuvas esparsas ocorridas durante os meses de julho, agosto e setembro, mantiveram a vegetação verde e o solo úmido durante todo o período de seca na maior parte das áreas monitoradas”. Para os técnicos, as causas da inatividade dos ninhais brancos ainda não foram identificadas. Existem relatos de que a altura da cheia anterior teria afetado a disponibilidade de alimento e, consequentemente, a reprodução em uma colônia, portanto, este ciclo atípico das águas parece ter influenciado fortemente a reprodução das garças, cabeças-secas e colhereiros este ano.

Outros fatores, como o volume dos rios e o índice pluviométrico podem estar relacionados, mas ainda não foram investigados.

Quando questionados sobre a inatividade do ninhal em cada uma das propriedades, os fazendeiros e moradores locais relataram como possíveis causas, a mudança de lugar natural do ninhal; o fato de que o pantanal não secou e os cabeças-secas não conseguiram obter alimento porque pescam somente em águas rasas; o grande volume de chuva que caiu no final do mês de julho fazendo com que as aves acreditassem que o período de cheia já estivesse começando, então não fizeram a postura; ou não haver àrvores suficientes para nidificação; entre outras.

Um fato atípico foi observado nos meses de julho e agosto pelos moradores de Barão de Melgaço, pela primeira vez garças e cabeças-secas foram observadas “comportando-se como urubus” ao redor de pescadores, disputando restos de peixes e vísceras jogadas no rio.

ATIVIDADES PARA 2010

Além da continuidade do mapeamento e monitoramento dos ninhais, está previsto o desenvolvimento de novos trabalhos para o ano de 2010. A meta é confeccionar uma cartilha sobre os viveiros do Pantanal Mato-grossense, com informações sobre ecologia e biologia, principais ameaças, potencial turístico, econômicos e didáticos e orientações, recomendações e propostas para os diferentes usuários (turistas, fazendeiros, guias, governo e outros).

A equipe de trabalho planeja também fazer reuniões com diferentes setores para discutir políticas de incentivo para a conservação dos ninhais, criar estratégias que visem a compatibilização do uso da terra com a preservação criando alternativas viáveis para o uso e proteção destas áreas.

E, viabilizar a instalação de placas informativas visando ordenar o turismo e a navegação nos ninhais.

“Estamos planejando sobrevoar a região, para reconhecer de forma mais eficiente os ninhais e sua área de entorno, e assim, identificar e mapear outros ninhais inacessíveis por via terrestre e fluvial”, contou Marcos Roberto.

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Parmenas Alt
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