Como os brasileiros reagiriam caso o governo criasse uma empresa – Aguabrás, por exemplo – com o objetivo de extrair as águas existentes em nosso subsolo para exportação? Parece absurdo? Mas não é. O mundo é carente de água doce. Em alguns países, como Kuwait, Arábia Saudita e Líbia, por exemplo, já está faltando esse produto. Existe um florescente comércio de água ao redor do mundo. A Turquia, por exemplo, já exporta água doce em container rebocado por navio, principalmente para a Ilha de Chipre, e tem um projeto de vender água doce, através de adutoras de grande diâmetro, que passaria por 11 países árabes ao custo de 20 bilhões de dólares.
A água é, como visto, uma mercadoria como outra qualquer, e tem mercado comprador. Poderíamos conseguir uma boa receita com seu comércio. Por que então não exportá-la?
Lógico, se o governo apresentasse um projeto como esse, o mundo cairia em sua cabeça. As ONG’s, os ambientalistas, os estudantes com suas caras pintadas, enfim todos, com certeza, sairiam em passeata brandindo palavras de ordem contra o governo. Diriam que a água é nossa; que é um produto finito; que quem tiver água no futuro vai dominar o mundo, etc, etc, etc. Seria uma verdadeira revolução.
Mas porque então não fazem a mesma coisa com o petróleo? É um produto tão essencial, para a humanidade, como a água. Ou será que o mundo moderno pode viver sem ele? Duvido. No entanto, tanto como a água, também é um produto não renovável e um dia vai acabar. Segundo estimativas, se novas reservas não forem encontradas, o petróleo no mundo acaba antes do meado do século. Depois será o caos. Quem tiver petróleo dominará o mundo. E mais, dentro de 15 anos, apenas 6 países terão possibilidade de exportar petróleo. São eles: Arábia Saudita, Iraque, Kuwait, Emirados Árabes Unidos, Venezuela e México.
Não é por menos que os Estados Unidos, que dispõe de grandes reservas, principalmente no Alaska, compram todo o petróleo que precisa do México, da Venezuela e de países do Oriente Médio. Faz até guerra pelo petróleo dos outros, mas preserva o seu intocado, para o futuro, para quando ele estiver escasso no mundo. O mesmo faz a China e outros países que pensam estrategicamente, com a cabeça no futuro. O que parece não ser, por exemplo, o caso do México que está queimando toda sua reserva vendendo, principalmente, para o seu vizinho do norte, os Estados Unidos, a um ritmo acelerado. Nos últimos 20 anos houve redução de 52,80% nas reservas provadas daquele país. A continuar no ritmo atual, daqui a 20 anos, no máximo, o México estará importando petróleo.
Caso semelhante aconteceu com a Indonésia, que queimou quase todo o seu petróleo, estimado em 4,37 bilhões de barris de reservas provadas, a baixos preços, sem tirar qualquer proveito. Em 2008, com a produção em declive, abandonou a OPEP – Organização de Países Exportadores de Petróleo, organização da qual fazia parte desde 1961. Passou de país exportador a importador, em menos de meio século.
Não é sintomático que os EUA, vivem às turras com Hugo Chaves, mas são os maiores importadores do seu petróleo? Inimizade, inimizade, negócios à parte. O petróleo fala mais alto.
O Brasil, desde 2006 quando entrou em produção a plataforma P-50 da bacia de Campos, atingiu a autossuficiência, produz mais petróleo do que consome, sem precisar tocar em um só barril do pré-sal. Ocorre que aos níveis atuais nossas reservas garantiriam o consumo para os próximos 20 anos, apenas. Isso contando com a complementação da energia alternativa, principalmente o etanol, biocombustível feito a partir da cana de açúcar.
O projeto do governo, segundo divulgado pela mídia, é exportar o petróleo do pré-sal, e utilizar essas receitas para criação de um Fundo Social, cujo objetivo é afastar a pobreza no Brasil. Objetivo nobre, porém vago em sua definição. Precisamos definir melhor para evitar os desperdícios.
Em 1973, quando houve o primeiro grande aumento nos preços do petróleo, com a criação da OPEP, Celso Furtado previu que a Venezuela seria o primeiro país subdesenvolvido da América Latina a superar a barreira do desenvolvimento. Não foi o que aconteceu. A Venezuela continua a ser o mesmo país “em desenvolvimento” que era na época. Não conseguiu, a despeito de sua substancial receita oriunda da exportação do petróleo, promover um desenvolvimento duradouro e sustentável. Hoje importa praticamente tudo o que consome.
A preocupação com a redução da pobreza é importante e prioritária, mas a continuar o pensamento de curto prazo estaremos comprometendo as futuras gerações, que correm o risco de ficar sem petróleo e sem futuro. Mesmo porque as deficiências mais profundas não se resolvem da noite para o dia, é preciso um planejamento de longo prazo. Dar tempo ao tempo. Querer resolver no afogadilho é jogar dinheiro no ralo.
O que defendemos é que nossas reservas do pré-sal sejam identificadas, demarcadas e preservadas, para serem exploradas somente quando necessárias, e utilizadas exclusivamente no mercado interno. Por isso propomos que nossos legisladores insiram na Constituição, através de emenda, o seguinte texto: “Fica proibida a exportação de petróleo”.
Assim estaremos garantindo o futuro de nossos filhos e netos. O futuro do Brasil.
(*) Waldir Serafim é economista e professor universitário.
O pré-sal e o futuro do Brasil
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