A Coreia do Norte surpreendeu a comunidade internacional nesta segunda-feira ao realizar testes com cinco mísseis de curto alcance, em um momento em que Pyongyang demonstrava disposição em voltar às negociações sobre seu programa nuclear.
Com a medida, o país causou surpresa e estranhamento entre líderes de vários países. Pouco depois da notícia de que Pyongyang havia lançado cinco mísseis de curto alcance de sua costa, os primeiros lançamentos em três meses, a Rússia –um dos países que participam do diálogo pela desnuclearização– lamentou a ação e expressou sua surpresa.
“Esta decisão das autoridades norte-coreanas é de lamentar e causa estupefação”, disse um alto funcionário do Ministério de Relações Exteriores russo, citado pela agência Interfax. O diplomata russo acrescentou que estes lançamentos norte-coreanos “são inoportunos, principalmente agora, quando são realizados esforços para retomar o processo de negociações multilateral” para a desnuclearização da península da Coreia.
Os mísseis foram lançados das proximidades da base de Musudan-ri, na Província de Hamgyong, segundo agência sul-coreana Yonhap, que informou ainda que o governo norte-coreano teria emitido uma proibição de navegação nas duas costas de 10 a 20 de outubro, em uma faixa de 120 quilômetros.
Autoridades do Japão também foram avisadas pela Coreia do Norte sobre a realização de manobras militares entre hoje e 25 deste mês no litoral oeste norte-coreano, segundo a agência japonesa Kyodo.
A Coreia do Norte testou entre 2004 e 2007 um total de 12 mísseis deste tipo, enquanto o lançamento de hoje é o primeiro desde julho.
Segundo uma fonte do governo de Seul citada pela Yonhap, são mísseis terra-terra do tipo KN-02 com um alcance de 120 quilômetros que podem ser disparados a partir de uma plataforma de lançamento móvel.
Diálogo
Analistas consultados pela Yonhap indicaram que as características destes mísseis de curto alcance mostram que a Coreia do Norte continua disposta ao diálogo e não acham que esse fato possa afetar futuras negociações de desarmamento.
O teste militar de Pyongyang poderia ser um exercício de rotina, segundo a Yonhap, mas ocorre justamente quando as relações entre as duas Coreias começavam a melhorar e que o regime norte-coreano parecia estar disposto a voltar à mesa de negociações sobre seu programa nuclear.
O lançamento de mísseis coincide com os esforços de Pyongyang para se reunir com representantes de Washington para tratar sobre sua desnuclearização e eventuais compensações.
O lançamento também ocorreu horas depois de Seul oferecer à Coreia do Norte reuniões de trabalho para falar de assuntos comuns, mas não quis manter encontros de alto nível.
EUA
O teste norte-coreano ocorre um dia antes das negociações em Moscou da secretária de Estado americana, Hillary Clinton, em cuja agenda o problema do programa nuclear norte-coreano ocupa um lugar de destaque.
Hillary afirmou nesta segunda-feira em Belfast que os testes não afetarão as discussões sobre o desarmamento da Península coreana.
“As consultas com nossos sócios e aliados continuam. Não serão afetadas pela conduta da Coreia do Norte”, afirmou Hillary. “Nossos objetivos continuam sendo os mesmos –temos a intenção de trabalhar buscando uma Península coreana desnuclearizada que possa demonstrar de forma comprobatória que está livre de infraestruturas nucleares”, acrescentou a secretária de Estado, que desde sábado (10) faz uma viagem oficial pela Europa.
“Progredimos muito com os outros membros do grupo de seis países que se uniram a nós na esteira das severas sanções contra a Coreia do Norte e que trabalham conosco para reativar o processo” de discussões com Pyongyang, disse a secretária, indicando que não sabe muitos detalhes sobre os testes desta segunda.
“Perseguimos este objetivo como perseguimos todos os objetivos que afetam nossa segurança nacional, além dos obstáculos, respondendo aos desafios: uma paciência tenaz que não tem garantias de êxito”, ressaltou.
Esta política “é uma forma muito importante para nós de construir uma coalizão e criar um espaço (de discussão) para tentar mostrar claramente aos norte-coreanos que a comunidade internacional não aceitará que continuem com seu programa nuclear”, concluiu Clinton.
Sanções
Pyongyang enfrenta as sanções do Conselho de Segurança da ONU, que proíbem o desenvolvimento de mísseis balísticos e armas nucleares, assim como o financiamento e o comércio de materiais que possam ser utilizados nestes processos.
Em setembro último, a Coreia do Norte disse que continuará processando o plutônio que tem armazenado para armas nucleares e enriquecerá urânio com o mesmo objetivo, o que significaria mais um passo em seu programa nuclear.
Especula-se que a Coreia do Norte tenha plutônio suficiente para construir cerca de seis bombas nucleares, mas não disponha ainda de capacidade para lançá-los com sua atual tecnologia balística.
Em 25 de maio último, o regime comunista realizou seu segundo teste nuclear subterrâneo, o que motivou a condenação da comunidade internacional.
F.Online/Efe, Reuters e Associated Press