O centro da capital está praticamente vazio nessas últimas semanas, fato que reflete instantaneamente no baixo fluxo de caixa das lojas. O setor varejista estima que o faturamento do mês de julho ficou cerca de 10% menor, se comprado ao mesmo período de 2005. Comerciantes se declaram desanimados e lançam mão de inúmeras promoções na tentativa de atrair o consumidor. E como sintoma da crise de falta de circulação de moeda – provocada por inúmeros fatores, mas principalmente pelos problemas do campo – as compras são efetivadas em volume cada vez menor.
Até a passagem de ônibus tem sido instrumento para atração de consumidores ao centro da cidade. A tática é chamar a atenção das pessoas para algo diferente, oferecendo o transporte, com direito a anúncio em rádio. Segundo a vendedora Márcia Zenaide, o pouco movimento da região central tem provocado nos lojistas idéias de marketing para tentar driblar a crise. “Estamos fazendo várias promoções, porque só assim o comércio sobrevive nesta região”, argumenta.
Segundo a comerciante Sara da Costa, de um loja de calçados, as pessoas estão preferindo pagamentos à vista com os descontos oferecidos. Ela diz que percebe que a população está com muitas dívidas e com isso não há grandes volumes de compras. “As facilidades do crédito a longo prazo endividou as pessoas”. Para atrair a clientela, a loja oferece descontos de até 50% e ainda estacionamento gratuito. “Ligamos na casas de nossos clientes anunciando as vantagens. Tiro do meu bolso o valor do estacionamento para que as compras sejam concretizadas”, revela.
A implantação da cobrança de estacionamento nas ruas centrais, por meio do Projeto Faixa-Verde ainda não repercute em vendas, mesmo com o objetivo de proporcionar um maior fluxo de circulação. “As pessoas passam e olham, mas só entram quando têm outras coisas para fazer. Antes quando o estacionamento era gratuito, as pessoas vinham mais”, observa a comerciante.
SEGUNDA QUINZENA – Segundo Juliana Nunes, dona de uma ótica na Cândido Mariano – conhecida como rua das óticas – o movimento após o dia 15 de cada mês reduz em até 30%. “Meus compromissos são acertados até esta data, porque depois não entra quase nada em caixa”, conta.
“Para vender? Só na base da promoção”, exclama a vendedora Alice da Silva que afirma que em nove anos no segmento de ótica, nunca tinha vivido um período tão “escasso”. “A situação para quem depende de pagamento feito por meio de comissão está muito difícil. As promoções são algumas alternativas que encontramos para vender um pouco a mais”, garante.
A promoção da loja garante ao cliente um desconto de R$ 50 reais com a apresentação da receita oftalmológica. “Com isso estamos atraindo alguns clientes, mas só assim”, reforça.
Segundo o presidente do Sindicato Intermunicipal do Comércio de Tecidos, Confecções e Armarinhos (Sincotec), Roberto Perón, a primeira quinzena é o que segura a segunda metade do mês. O pagamento de empresas e funcionalismo público concentrados até o dia 10. “Existe uma tendência em Cuiabá de baixa significativa após o dia 15”.
PERDAS – Para Perón, nos últimos cinco anos o comércio cuiabano vem acumulando perdas de até 10% ao ano. Segundo ele isso é um reflexo da pressão sobre o rendimento do trabalhador. “O comércio de Cuiabá acumulou quase 50% de perdas nos últimos cinco anos, e o mês de agosto que geralmente é um mês aquecido, não se portou como em anos anteriores”, explica. O mês de setembro – que é tido como um mês fraco em vendas no varejo – passa a ser o grande desafio dos comerciantes “que terão de inovar nas promoções para conseguir movimentar o comércio que está praticamente paralisado”, observa.
fonte:dc
