O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, afirmou em Curitiba (PR) que “a turminha da motosserra” está interessada “em acabar com a biodiversidade” no país.
“Tem muita gente querendo acabar com o Código Florestal aqui. No mundo inteiro as pessoas querem ampliar a defesa das florestas, da biodiversidade. E aqui no Brasil há uma ofensiva terrível, como se isso fosse um grande atraso”, disse.
“A turminha da motosserra acha que o bom aqui é acabar com todas as proteções do bioma”, afirmou, sem citar nomes ou setores econômicos.
Minc fez a declaração em entrevista coletiva, quando elogiava a criação, por um instituto ambiental de Curitiba, de um certificado para reconhecer práticas empresariais de proteção a recursos naturais.
Declarações semelhantes já custaram a Minc brigas com colegas de ministério e o rompimento de diálogo com representantes do agronegócio.
O ministro declarou que há uma imagem equivocada de que o Brasil tem todo o território protegido por leis ambientais, o que dificultaria o avanço de atividades econômicas.
“Se nós fôssemos uma grande unidade de conservação, quem explicaria que nos últimos 15 anos triplicou o número de espécies em extinção?”, questionou Minc.
Para o ministro, “ao contrário do que se diz, temos pouca proteção e não proteção a mais”. Minc disse que a expansão agrícola pode aproveitar 440 milhões de hectares de área degradada no lugar de derrubar mais florestas. “Não precisa desmatar mais nada.”
Ao responder pergunta sobre como avaliava a reconstrução da BR-319 (Manaus-Porto Velho), um dos assuntos que geraram atrito com o ministro Alfredo Nascimento (Transportes), Minc demonstrou posição desfavorável à obra.
“Se antes já era temeroso você avançar sem os cuidados necessários em áreas preservadas, no coração mais preservado da Amazônia [por onde passa o traçado da 319, segundo Minc], imagina agora o prejuízo que pode ter tendo planos de mudanças climáticas, metas internacionais [a serem cumpridas pelo Brasil]?”, questionou.
Reação
O ministro Reinhold Stephanes (Agricultura) também esteve em Curitiba e rebateu declarações de Minc. “Não tem sido fáceis as conversas com o ministro do Meio do Ambiente. Até porque ele tem preconceito contra produtores agrícolas, tanto que ele os chamou abertamente de “vigaristas”. Ele não soube compreender, até pela sua visão urbana”, afirmou.
Segundo Stephanes, “ele [Minc] é um homem de Ipanema, Rio de Janeiro, não conhece o interior do Brasil, não conhece a produção agrícola.”
Apesar das divergências, Stephanes disse que ainda mantém esperança de entendimento com o colega da pasta do Meio Ambiente. “Temos um problema e temos que encontrar uma solução. Estamos conversando”, afirmou Stephanes, que participou de evento da Faep (Federação da Agricultura do Estado Paraná).
DIMITRI DO VALLE
da Agência Folha