Como se disputasse uma maratona com a humanidade. Não há dia que passe que a ciência não dê mais uma corridinha em direção… em direção a quê? Não se sabe. Pouco importa.
Como nas maratonas e outros esportes, o importante é competir. Lá está ela de novo se preparando para mais uma volta olímpica. Desta vez, foram ao busílis da coisa. Estão mexendo com aquilo que, desde o primeiro filme do monstro criado pelo Dr. Frankenstein, ficou provado, para qualquer cinéfilo ou mero espectador interessado, ser mais do que desaconselhável: tentar criar vida artificial. Corrijo-me, vida de verdade. Vida pra valer. De artificial, bastam as flores e frutas que pessoas pobres e de gosto dúbio gostam de botar em cima da mesa.
Cientistas revelaram que, pela primeira vez, células-tronco foram usadas para a criação de esperma sintético. Genuíno, quase. Que um leigo ou uma leiga não saberiam dizer se há diferença entre um e outro. Feitos esses adoçantes artificiais que de uns anos para cá podem ser encontrados nas boas farmácias do ramo. Sem entrar em detalhes (embora louco para entrar em detalhes), a notícia levanta as mais doidas, as menos criteriosas possibilidades. Estamos em pleno mundo da ficção científica. Philip K. Dick, chega-te pra lá. Eu e você, companheiro, tornamo-nos, assim sem mais nem menos, de um dia para o outro, absolutamente dispensáveis. Num futuro não muito distante, bastará à senhora ou senhorita chegar no devido estabelecimento comercial – e alguém tem dúvida de que o precioso sêmen será prontamente industrializado? – e fará suas compras. Já entreouço o diálogo:
– Moço!
– Pois não, minha senhora.
– Senhorita, se faz favor.
– Perdão. Senhorita.
– É aqui que tem esperma pra vender?
– Precisamente. Mas nós preferimos chamar de “Preparado X”.
– Eu gostaria de ver um.
– Ver não dá. Posso apenas mostrar alguns resultados e os depoimentos de clientes satisfeitas.
– Ocá. Taca ficha.
– O “Preparado X” não pode ser tacado nem tem ficha. Ele é aplicado na feliz compradora aqui mesmo. Num desses cubículos à sua esquerda. Aliás, cubículos de luxo dispondo das mais modernas facilidades.
– Leva tempo?
– Uns nove meses.
– Eu digo, para fazer a… a… aplicação.
– Absolutamente. Dez minutinhos e, em menos de um ano, a senhorita terá o bebê que preferir seu, todo seu e de mais ninguém.
– É caro?
– Pouquinho. Mas compensa.
– Dão garantia?
– Só de parto. Garantimos a sopa genética. Depois, é com a senhorita e a vida.
– A gente pode escolher o… ahn … sexo do bebê? E algumas características de sua personalidade?
– Com toda certeza. No momento, as meninas estão tendo mais saída que os meninos. Quanto às características pessoais, perto de 60% do escolhido é tiro e queda, se me perdoa a expressão.
– Então tá. Eu vou querer uma menina. Loirinha. Mais para a engraçadinha que a gostosona. Nem muito burra nem muito inteligente. Assim-assim. Que dê para o gasto. Mais para a virtuosa que a fútil. Religiosa só um pouquinho. Bem dotada nas prendas domésticas. Que goste de cinema, rock e esportes, com preferência no tênis. Que…
Sou capaz de jurar que já tem gente – senhoras e senhoritas, sem dúvida – querendo saber quando é que a novidade chega à praça.
BBC.B/Ult.Seg