Uma pesquisa feita com mil executivos de São Paulo e Porto Alegre, com cargos de gerência para cima, revela que esses profissionais têm adotado uma estratégia nada saudável para aguentar as pressões do dia a dia: 57% deles recorrem ao uso de álcool, drogas ou medicamentos para suportar o estresse da rotina. “É uma tentativa de fugir da realidade”, resume Ana Maria Rossi, coordenadora da pesquisa realizada pela International Stress Management Association do Brasil (Isma-BR), um instituto de estudo do estresse.
“E o pior é que isso pode contribuir para piorar sua saúde a longo prazo.”
Excesso de trabalho, medo de demissão, falta de controle na execução das tarefas e conflitos interpessoais são os fatores apontados como causadores de estresse. Ele se reflete no corpo, na mente e no comportamento dos trabalhadores. Mais da metade dos entrevistados diz sentir ansiedade, angústia e raiva. A saúde também vai mal. Eles apresentam tensões musculares, dores de cabeça, dificuldades para dormir e problemas gastrointestinais.
Na opinião de Ana Maria, é difícil dizer que o estresse provém exclusivamente da atividade profissional. “Há uma série de outros fatores envolvidos que podem ajudar a formar esse quadro”, reforça a coordenadora do Isma-BR.
O psiquiatra Marcos Pacheco Ferraz, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), explica que o período em que a pessoa é economicamente ativa – em média, dos 20 aos 60 anos – coincide justamente com a época em que se manifesta a maioria das doenças. “Por isso, muita gente atrela os problemas de saúde ao trabalho. Mas, em muitos casos, se não estivesse trabalhando, aquela doença também apareceria”, afirma o psiquiatra.
Mais tempo na empresa
A pesquisa mais recente da Organização Internacional do Trabalho, que data de 2006, mostra que os profissionais brasileiros ficam em média 43,9 horas por semana nas empresas. Para quem cumpre expediente de segunda a sexta-feira, seria o equivalente a trabalhar quase nove horas por dia. Em 2000, a carga semanal era de 42 horas, o correspondente a exatas oito horas e 24 minutos de jornada diária.
Porém, ainda que o excesso de trabalho não seja a causa direta do problema, ele pode ser um importante complicador para o quadro de estresse. “O dia da pessoa continua tendo 24 horas. Ou seja, se alguém dedica mais horas à empresa, sobra menos tempo para a família, os amigos, o sono e também para o lazer”, diz Ana Maria.
E quando o trabalhador tenta aliviar essa tensão consumindo drogas ou álcool, a consequência pode ser bastante perigosa. “O consumo pode se transformar em vício, provocar sérios danos à saúde e também incentivar um comportamento violento ou depressivo, dependendo da personalidade da pessoa”, alerta Rosana Trindade Santos Rodrigues, psicóloga da Santa Casa de Misericórdia.
Com o estresse a níveis altos, qualquer problema tende a se agravar. “A pessoa se torna candidata a demissão, se for casada pode se separar, enfim, tudo se complica”, observa o psiquiatra Ferraz. “Por isso, o cidadão deve procurar diagnosticar o foco de estresse, de preferência com a ajuda médica”, sugere o psiquiatra. Uma dica para saber se o trabalho é mesmo a causa do problema, é olhar para os colegas e verificar se eles também estão tão estressados quanto você.
“Mas se a atividade profissional for realmente a responsável pelo estresse, infelizmente só restam duas opções: ou tentar controlar a situação e agir para que o estresse diminua no cotidiano ou sair do trabalho”, conclui Ferraz.
Por Carolina Dall’olio
U.Seg