Homicídios registrados em Várzea Grande foi 29% maior do que a de Cuiabá durante o ano de 2008, segundo dados da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP).
Um balanço parcial indica a preocupante proporção entre casos de assassinato e população no município. Para cada 100 mil habitantes, enquanto a Capital contou uma média de 36 ocorrências, a Polícia Civil registrou 51 casos no município vizinho, cuja população é praticamente 50% menor.
A população da Cidade Industrial é de quase 249 mil habitantes, segundo o Censo de 2004 do IBGE. É a segunda maior cidade de Mato Grosso. Hipoteticamente, seguindo proporção e tendência já alarmantes em Cuiabá (que contou 195 homicídios até segunda-feira passada e possui aproximadamente 543 mil habitantes), Várzea Grande contaria aproximadamente 90 casos de assassinato entre sua população. Porém, a realidade apresenta um número cerca de 40% maior. Juntas, as duas cidades contabilizam agora 322 homicídios em 2008.
O Mapa Nacional da Violência, lançado pela Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana no início do ano, apontava o município de Coronel Sapucaia, em Mato Grosso do Sul, como o responsável pela maior taxa de homicídios por 100 mil habitantes do Brasil, 107,2. O município mato-grossense de Colniza (a 1.065 quilômetros de Cuiabá) era o segundo da lista nacional, com média de 106,4. Entre as capitais, Recife (PE) foi a campeã, com taxa de 90,5. A capital da Venezuela, Caracas, que é uma das mais violentas do mundo, registrou média de 103.
De acordo com o promotor criminal Mauro Benedito Curvo, os números proporcionais das duas cidades, principalmente Várzea Grande, deveriam estar muito abaixo. “A Organização das Nações Unidas (ONU) estipula 10 homicídios para cada 100 mil habitantes como ‘aceitável’, mas nós estamos muito acima disso”, constata.
Curvo aponta que o planejamento estadual para segurança pública tem de passar a “observar as particularidades de Várzea Grande, que não é considerada nem interior e nem capital”. Passou a época em que as cidades vizinhas poderiam ser compreendidas apenas como uma única e homogênea região urbana. E a segurança tem de acompanhar as demandas desta nova realidade. Daí, a proposta do promotor de implantar na DHPP, em Cuiabá, um setor voltado apenas para Várzea Grande (ver matéria).
Para o secretário de Estado de Justiça e Segurança Pública, Diógenes Curado, as estratégias de segurança sobre Várzea Grande têm de estar vinculadas às de Cuiabá. As causas cogitadas por ele para a violência proporcionalmente elevada no município vizinho passam pela descentralização do narcotráfico (apontado pelo secretário como principal causa dos homicídios, ao lado das motivações passionais).
É como se as atividades criminosas tivessem apenas mudado de bairro dentro de uma grande cidade, com o deslocamento das bocas-de-fumo e dos traficantes. Até 2003, lembra Curado, a situação no município era de tranqüilidade. De fato, um estudo da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) divulgado em 2002 dava conta de que indicadores da violência na cidade diminuíram entre 1998 e 2001. Porém, Curado (delegado federal afastado) constata que, desde então, até as ações da divisão de narcóticos da Polícia Federal ficaram freqüentes na cidade. O fato, cogita-se, aponta para a reprodução em Várzea Grande de um fenômeno sociológico conhecido como “migração da mancha da criminalidade”.
RENÊ DIÓZ
Diário de Cuiabá