Três grupos opositores – dois do interior de Cuba e outro de exilados em Miami – formaram um partido único da linha social-democrata com o objetivo de promover as mudanças desejadas pela população, tentando ir além dos temas tradicionais da dissidência na ilha. A Corrente Socialista Democrática, o Partido do Povo e a Coordenação Social-democrata no Exílio se fundiram para criar o Arco Progressista, cuja fundação contou com a presença de cerca de 50 pessoas, dissidentes de todas as regiões de Cuba.
“Transformamos o Arco Progressista no partido por excelência da esquerda democrática, dentro e fora de Cuba”, disse o líder do novo partido, Manuel Cuesta Morúa, à BBC Mundo.
Segundo Morúa, é um passo para que “unamos forças neste momento que nós interpretamos como de mudanças históricas, no qual queremos adiantar à sociedade nossas iniciativas para conseguir o bem-estar e a democratização”.
Conquistas
Diferentemente de outros grupos da oposição, o Arco Progressista defende as conquistas nos setores de saúde e educação do regime cubano, às quais o povo não estaria disposto a renunciar. O grupo também é contra o embargo americano e nega receber qualquer ajuda dos Estados Unidos.
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Fidel governou Cuba sem oposicionistas
“O partido começa com 400 integrantes em toda a ilha e um número maior de simpatizantes dentro da rede “Cidadãos por uma Mudança Tranqüila”, uma das instituições que estamos promovendo junto ao povo”, disse Morúa.
“Uma das dificuldades da oposição é o alijamento do povo, nós somos uma das organizações que melhor soube captar a sensibilidade do cidadão que tem a cabeça no mercado, mas a sociedade no coração”, disse ele.
Segundo informações da imprensa cubana, as autoridades impediram que fosse realizado um congresso para a fundação do partido, o que foi confirmado por uma das vice-presidentes, Denia Rodríguez del Toro.
“Os delegados das províncias do sul foram convocados pela polícia e tiveram seus documentos de identidade apreendidos para que não pudessem participar, e foi negado visto a deputados europeus socialistas.”
Mas del Toro reconhece que a atitude das autoridades com o partido é diferente da com o restante da oposição. “Nos fustigam bastante, mas com certo respeito e certa cortesia, parecem saber que somos de uma linha moderada”.
Apesar do pequeno tamanho, o movimento social-democrata tem características próprias que poderiam transformá-lo em uma alternativa política nacional, já que se trata da força opositora mais aceitável tanto para o governo como para a população.
A posição crítica em relação às políticas americanas contra Cuba torna difícil para o governo acusá-los de mercenários pagos por Washington, como faz com os outros grupos dissidentes, e o discurso próximo ao povo, focalizando nos problemas diários do cidadão, como a reforma agrícola ou a crise dos alimentos, tem apelo junto aos cubanos.
Mas apesar do potencial, a realidade em Cuba é que a oposição reúne apenas poucos milhares de pessoas na ilha e, até agora, nenhum grupo conseguiu ativar e organizar os cerca de 10% da população que, em cada eleição, rejeita as propostas do governo abstendo-se de votar, votando em branco ou anulando o voto.
BBC/U.Seg