A venda de parte dos direitos econômicos de Dentinho, André Santos e Renato para o Grupo Sonda, famoso pela rede de supermercados e que começa a investir no futebol, só ratificou a política não só do Corinthians, mas de vários clubes brasileiros: ratear seus atletas para conseguir dinheiro imediato, sem perder o talento, ou gastar menos nas aquisições que faz.
O caso corintiano mostra que a estratégia atinge não apenas o elenco principal, mas também a equipe de juniores. Garotos que nem sequer treinaram entre os profissionais já estão vinculados a empresários ou empresas criadas exclusivamente para deter direitos de atletas de futebol.
Dos 38 jogadores que integram o elenco profissional corintiano, somente 13 (ou 34%) pertencem exclusivamente ao clube – e renderiam 100% do valor da multa rescisória no caso de uma negociação. Quatro que estão emprestados, e outros são 21 repartidos, nas mais variadas porcentagens e com os mais variados parceiros. O número de sócios chama a atenção: são 19, entre clubes, empresários e empresas.
Há parceria, por exemplo, com o Sport Club Cerrito, do Uruguai, que detém 30% do atacante Acosta. Ou com o Desportivo Brasil, o time criado pela Traffic para gerenciar alguns de seus atletas – caso de Marcel. O goleiro Felipe, por exemplo, é vinculado 50% ao Corinthians, 25% ao Bragantino e 25% à Mambaru Participações, outra empresa feita apenas para administrar parte de jogadores, sendo que algumas são abertas somente para cuidar de um atleta específico, sendo fechadas logo depois que ele é negociado.
“Nós pegamos o clube em situação complicada financeiramente. Vender uma parte de jogadores foi uma forma inteligente que conseguimos para fazer caixa e ainda manter o elenco”, argumenta o presidente Andrés Sanchez para justificar a estratégia.
Há dois tipos de parcerias: a feita com o Grupo Sonda, que paga um valor por parte dos jogadores (R$ 5,4 milhões, no caso do trio comprado) que já estão no clube, e permanecem por um pouco mais de tempo, ou aquela em que o clube tem interesse no atleta de outra equipe e deixa parte dos direitos dele para empresários, empresa ou o clube com o qual negocia. Assim paga menos ou às vezes nada, alegando que o retorno financeiro para o parceiro chegará na venda.
“Todos ganham, porque tem a valorização do atleta, e os clubes, hoje, têm pouco dinheiro em caixa para grandes investimentos”, defende o empresário Wagner Ribeiro, que no time de cima é parceiro nos direitos de Dinelson.
No sub-20, ou juniores, são 33 atletas registrados. Destes, 15 pertencem somente ao Corinthians e 18 estão rateados. Três destes – o atacante César, o goleiro André Dias e o volante André Augusto – possuem parte de seus direitos. No fim das contas, porém, este valor é repassado a seus empresários. “O Wagner (Ribeiro) negociou meu primeiro contrato e não ficou com nada. Nos próximos negociamos”, diz Marcelinho, 18 anos, que, por enquanto, pertence 100% ao Corinthians.