O senador Barack Obama chega para as eleições gerais com vantagens óbvias: ele é um candidato democrata concorrendo em uma atmosfera amarga para os republicanos, em uma disputa em que os eleitores estão famintos por mudança e surge de uma campanha em que encheu arena a arena com simpatizantes.
Porém, apesar de seu desejo de voltar sua atenção totalmente para os ataques que já são feitos pelo senador John McCain e pelo Partido Republicano, Obama ainda tem problemas em seu próprio partido e que podem ofuscar qualquer questão até que ele os resolva: como reparar as relações com a senadora Hillary Clinton e seus eleitores e se deve oferecer um posto em sua chapa.
Hillary usou suas horas finais na longa temporada de primárias para deixar claro que estaria aberta a ser companheira de Obama na chapa. Se existe alguma esperança no círculo democrata de que ela deixaria de pressionar Obama ou de uma declaração representando falta de interesse, ela a desapontou na terça-feira, 3. Dificilmente foi uma surpresa o fato de Obama ter dispensado elogios à Hillary e suas realizações.
Até que possa lidar com a questão de Hillary, pode ser difícil para Obama dar o próximo passo em sua conquista: se apresentar ao eleitorado completo e não somente aos democratas, expondo sua política ideológica antes que McCain o faça da sua maneira e tentado retificar alguns dos pontos fracos ressaltados no processo combativo das primárias.
Além disso, existem outras questões. Obama pode sobreviver aos ataques da máquina republicana, que provou nos últimos 20 anos ser capaz de desacreditar os candidatos democratas, particularmente os com limitada experiência em campanhas nacionais? Será que ele, de acordo com o seu passado eleitoral, é vulnerável ao tipo de ataque que McCain começou na noite de terça, ao tentar retratar Obama como alguém fora de contato com grande parte do país em temas como impostos, governo e ameaças à segurança americana?
Grande parte do otimismo cauteloso da campanha de Obama é baseado nas expectativas de que está será uma eleição para virar a página, em que a revolta profunda com o presidente George W. Bush, assim como com o descontentamento com a Guerra do Iraque e a economia conduzam o Partido Democrata para uma vitória em novembro. Porém, ainda não está claro se estas questões, consideradas substanciais, superarão as questões e valores culturais – como raça, patriotismo e classe -, ou a questão sobre se os eleitores julgarão que Obama, depois de poucos anos no Legislativo de Illinois, tem a experiência necessária para ocupar o Salão Oval.
Existem vantagens óbvias em uma chapa Obama-Hillary. Primeiro, ela ajudaria a curar as feridas entre os eleitores de Hillary, especialmente as mulheres. Alguns dos partidários da senadora sugeriram que ficariam em casa durante as eleições gerais ou votariam em McCain, que fez um apelo explicito pelo apoio desse eleitorado na noite de terça, enquanto tentava almentar a pressão sobre Obama. Hillary ainda daria parte da credibilidade que Obama precisa em política externa, traria os seus próprios doadores de campanha e provavelmente ajudaria a colocar mais Estados na disputa geral.
“Eu penso no mundo para os dois”, disse o senador Thomas R. Carper, democrata de Delaware. “Quero vê-los concorrendo como um time”. Ainda existe uma apreensão clara, mesmo que não pública, no círculo de Obama sobre se ele teria sabedoria de convidá-la para dividir a chapa. Depois de ganhar tanta atenção com a promessa de levar novos rostos para Washington, o senador estaria pedindo que os eleitores colocassem outro Clinton na Casa Branca, ainda que no posto de vice.
Hillary não vem sozinha; além de sua própria história – e da legião de eleitores que não gostam dela – a senadora ainda traria o ex-presidente Bill Clinton, cuja bagagem pode ser julgada por Obama como maior do que sua habilidade política, especialmente depois de uma temporada de primárias que prejudicou a reputação do marido de Hillary.
E concorrer como presidente envolva mais uma apresentação de comando e autoridade. Um papel crucial na seleção do vice-presidente é evitar a percepção de que é pressionado a tomar uma decisão por um companheiro de partido em potencial. “Seria um retrocesso escolher Hillary a este ponto da disputa – e ele defende um olhar adiante, promover a mudança”, disse Matt Bennett, co-fundador da organização democrata moderada Third Way. “Obama representa uma política fundamentalmente nova. Escolher um Clinton seria por denifição olhar para trás, e não acho que ele queira isso.”
Além disso, alguns democratas argumentam que ao invés de produzir uma chapa que seria maior do que a soma das duas partes, a união Obama-Hillary pode ter o efeito oposto, ao afastar os dois grupos de eleitores que relutam em votam em um afro-americano e os que não votariam em uma mulher. Durante a campanha, Hillary e Obama tiveram um relacionamento que alternou entre o tenso e o estranho. Obama já afirmou em um debate que ela seria “suficientemente amigável”, e Hillary disse que McCain ofereceria “uma vida inteira de experiência” aos eleitores, enquanto Obama “apresentará um discurso feito em 2002”, em referência a um discurso feito em Chicago antes de ser eleito ao Senado, em que se manifestou contra a Guerra do Iraque.
Inevitavelmente, ao passo em que a campanha continuou, as relações entre os dois piorou – exacerbada pela insistência de Hillary de que seria uma candidata mais forte contra McCain; alguns dos comentários de Bill Clinton, de que a consistente oposição de Obama sobre a guerra seria um “conto de fadas”; e a impaciência entre os eleitores de Obama com a decisão de Hillary em permanecer até o fim da disputa.
As ações de Hillary na noite de terça podem não ter aumentando o seu poder de negociação junto a Obama. Intencionalmente ou não, seus comentários roubaram a cena, fazendo com que Obama se lembre dela de muitos modos, inclusive que ela é um personagem difícil de ser retirado do palco.