O município de Rondonópolis possui um déficit de armazenamento para 744 mil toneladas de grãos. O levantamento é resultado da relação entre a produção estimada em 1,536 milhão/t de alimentos na safra 2005/2006 e a capacidade estática para abrigar 792,640 mil/t de produtos ‘in natura’ no município. O cálculo considera a produção de grãos como soja, algodão, milho, arroz e feijão.
No Estado, falta espaço para estocar 3,345 milhões/t de produtos básicos. Conforme o nono levantamento de safra divulgado ontem pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), na temporada 2005/2006 o Estado colheu 21,867 milhões/t de produtos agrícolas. Ao mesmo tempo, os depósitos do Estado possuem uma capacidade estática para 18,522 milhões/t.
O engenheiro agrícola e responsável técnico pelas unidades de armazenagem da Conab em Goiás, Marilson Gonçalvez Campos, que participou ontem, em Rondonópolis, do primeiro Encontro sobre Pós-colheita de Grãos, admite a defasagem no número de unidades de armazenamento. Segundo ele, para aliviar o problema, a Conab frequentemente realiza a transferência dos grãos estocados no Estado para outras unidades. A migração, porém, pode ser realizada somente com as mercadorias estocadas nos depósitos do Governo Federal, que são a minoria.
Ele destaca que a prática visa liberar os depósitos a cada nova safra de grãos. Além de induzir a remoção dos estoques, a falta de armazéns inibe a expansão na área plantada do Estado. “Sem ter onde deixar a produção os agricultores acabam tendo que limitar o plantio”, ressalta. A falta de depósitos gera ainda perdas ao produtor. Campos frisa que normalmente na entressafra, o preço pago pelos produtos agrícolas sobe. Se tiver onde estocar os alimentos os agricultores podem aguardar a valorização das mercadorias e negociar preços melhores. Caso contrário, o produtor fica a mercê do mercado. Outro problema decorrente da falta de armazéns é o aumento no índice de perdas.
Sem um local adequado para fazer a secagem dos grãos os produtores precisam secar o alimento ainda na planta, antes de colher. “Isto faz o produto ficar mais vulnerável”, frisa ele, acrescentando que a demora em desocupar o solo também faz com que o agricultor deixe de plantar a safra de inverno. Possuir um local para colocar a produção agrícola ainda gera economia com o frete pago para o transporte das mercadorias. Sem dar o tratamento adequado ao grão, água e impurezas em excesso são transportadas.
De acordo com Campos, outra vantagem é poder processar a produção conforme a capacidade de colheita. Para ele, todos esses benefícios fazem com que investir na aquisição de um espaço para estocagem de grãos seja lucrativo, em longo prazo. “Com a melhor qualidade do produto, em pouco tempo é possível recuperar os investimentos feitos na aquisição do armazém”, considera. Ele não soube informar o valor gasto na construção de um depósito.
LOCALIZAÇÃO
Em média, apenas 10% dos armazéns brasileiros estão localizados nas propriedades agrícolas. O ideal seria que pelo menos 60% das unidades de estocagem estivessem no campo, a exemplo do que acontece em outros paises produtores de grãos como Estados Unidos e Argentina. De acordo com o responsável técnico pelas unidades de armazenagem da Conab, isto evita despesas adicionais para transportar os grãos até o local onde estão os armazéns, que normalmente ficam próximos às cidades.
Ele destaca também, que a maior parte das estruturas (72%) está nas mãos da iniciativa privada. Outros 22% são administrados por cooperativas e apenas 6% da capacidade estática de armazenamento pertence ao Governo Federal. Em Rondonópolis, cerca de 10% do espaço disponível em armazéns pertence à Conab. O depósito localizado no km 217 da BR-364, no município, possui uma capacidade de armazenamento para 92,1 mil/t de grãos.
PORTE
Ele considera ainda que em todas as unidades da federação existe o predomínio de grandes armazéns, especialmente graneleiros (que estocam o produto ‘in natura’). Em Mato Grosso, por exemplo, os depósitos para mercadorias a granel representam 81% da capacidade estática total. Isto significa que existe espaço para 15,051 milhões/t de mercadorias ‘in natura’, enquanto os armazéns para mercadorias embaladas comportam apenas 3,471 milhões/t.
Para Campos, isto acaba revelando outro problema, que é o baixo índice de industrialização da produção agrícola. Em Rondonópolis, do espaço total, 85,77% são destinados à estocagem de produtos a granel, com uma capacidade para 79 mil/t. Os maiores armazéns são de propriedades das unidades de esmagamento de soja da Bunge Alimentos e da Archer Daniels Midland (ADM). O espaço comporta ainda 13,1 mil/t de mercadorias embaladas. O Governo Federal possui ainda outros quatro armazéns, em Sorriso, Sinop, Diamantino e Alta Floresta.
DC