As medidas propostas pelo governo para diminuir o desmatamento da floresta amazônica estão “erradas”, disse um cientista apresentado pelo jornal britânico Financial Times como “um dos maiores especialistas sobre a floresta tropical” que “estuda a Amazônia há 20 anos”.
Em entrevista ao FT, Daniel Nepstad, do Centro de Pesquisas Woods Hole, nos Estados Unidos, afirma que o uso das imagens de satélite produzidas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) para medir o nível de desmatamento da floresta pode provocar uma “nova onda de anarquia”.
“O novo ministro do Meio Ambiente do Brasil toma posse hoje em meio a uma disputa sobre o aparente aumento do desmatamento na região da Amazônia”, diz o FT. “A disputa envolve dados de satélite sobre desmatamento e medidas punitivas baseadas nos dados, adotadas pelo governo contra pecuaristas e fazendeiros nas regiões mais afetadas.”
Nepstad disse ao jornal que as imagens são imprecisas e só deveriam servir como base para a verificação in loco do desmatamento em si. “Definir medidas do governo com base em dados tão incertos é simplesmente errado”, disse ele ao FT.
Segundo o jornal, o governo vê a pressão sobre os fazendeiros como essencial para combater o desmatamento, mas para Nepstad, ela pode estar tendo o efeito contrário. “Houve uma batalha infeliz entre o governo e o setor dos fazendeiros desde a liberação dos dados do fim de 2007”, disse o pesquisador, se referindo ao anúncio de que o desmatamento tinha voltado a crescer depois de anos em declínio.
“Baseado nesses dados preliminares, o governo anunciou em janeiro medidas punitivas contra pecuaristas e fazendeiros nos locais com taxa mais alta de desmatamento. A partir de julho, será cortado o financiamento subsidiado para fazendeiros que não conseguirem provar que suas propriedades estão dentro da lei ou que estão adotando medidas para cumprir a determinação legal. Isto inclui a preservação da floresta em 80% de sua propriedade”, diz o FT.
De acordo com o jornal, esta exigência foi criada na última década, mas a maioria dos produtores já havia violado a lei, ou decidiu ignorá-la. “A qualidade dos dados e o tamanho do aumento (do desmatamento), se existir, não justificam as medidas punitivas, que terão criminalizado um setor no meio de uma grande experiência”, disse o especialista, se referindo à moratória da soja, que levou comerciantes a parar de comprar soja colhida em áreas desmatadas desde 2006.
O especialista ainda defende a proposta de lei a ser votada pelo Congresso – à qual o governo se opõe – que diminui para 50% a área a ser preservada pelos fazendeiros em suas propriedades. “Se houver benefícios econômicos claros para aqueles que cumprirem a determinação no nível de 50%, o resultado poderia ser um declínio no desmatamento”, afirma Nepstad.
BBC Brasil