Os advogados de defesa de João Arcanjo Ribeiro, Hércules Araújo Agostinho e Célio Alves de Souza querem uma nova investigação no caso que apura o assassinato do empresário Mauro Sérgio Benedito Manhoso. Eles alegam que o inquérito tem falhas e que a investigação foi desvirtuada depois que Hércules prestou um depoimento confessando o crime. No entanto, depois Hércules negou envolvimento no caso.
Nesta quarta-feira, Arcanjo, Hércules e Célio deixaram o presídio federal em Campo Grande (MS) e viajaram até Cuiabá para participar na 13ª Vara Criminal da capital de uma audiência sobre o caso. Hoje foi realizado o depoimento do delegado João Bosco Barros, que era responsável à época pela Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa. O delegado foi arrolado como testemunha de defesa no processo.
João Bosco disse que presidiu o inquérito apenas em 2004, quatro anos após o crime. Ele explicou que as investigações tomaram novo rumo depois que Hércules decidiu confessar o assassinato. “O caso tomou rumo com o depoimento de Hércules, porque antes não havia esclarecimento”, revelou o delegado. Segundo ele, a narrativa de Hércules foi suficiente para concluir que o ex-cabo e o ex-soldado Célio foram os autores do crime, conforme consta na conclusão do inquérito. Arcanjo foi apontado como mandante do homicídio porque Manhoso teria ingressado no negócio de caça-níqueis e concorreria com o bicheiro na capital.
“Mentira premiada”
A defesa dos réus questiona o fato de que Hércules mentiu sobre a autoria para conseguir o benefício da delação premiada. Desta forma, os advogados afirmam que os rumos do início das investigações foram ignorados pelo delegado. A defesa pede que o sigilo telefônico de um suspeito de envolvimento no crime seja quebrado e anexado aos autos. “Requeremos a quebra do sigilo”, disse Waldir Caldas, advogado de Célio. Os novos documentos devem ser juntados ao processo.
O promotor Flávio Fachone disse, após a audiência, que “a defesa está no papel dela”. Ressaltou, no entanto, que os novos documentos não têm qualquer relevância para o Ministério Público. Questionado sobre o pedido de retomadas das investigações, Fachone foi direto. “É um absurdo. Judicialmente ele [Hércules] confessou. A prova é a confissão”, completou o promotor.
O juiz Adilson Polegato de Freitas determinou uma diligência para que a quebra do sigilo telefônico ocorra. Em seguida, o processo vai às alegações finais. O próximo passo será a pronúncia do Ministério Pública, depois será a vez da defesa dos réus se pronunciar antes que o processo vá ao Tribunal do Júri.
O assassinato
O empresário Mauro Sérgio Manhoso foi assassinado com nove tiros no dia 9 de outubro de 2000, próximo à antiga sede da Assembléia Legislativa, no centro de Cuiabá. De acordo com a denúncia do Ministério Público, Arcanjo seria o mandante do crime porque Manhoso era dono de uma empresa – Prodados – , que desenvolvia jogos eletrônicos e bingos.
João Arcanjo, ainda de acordo com a denúncia, teria se sentido ameaçado nos negócios, visto que comandava uma rede de jogos ilegais em Mato Grosso. Ele teria recorrido aos pistoleiros Hércules e Célio para matar o “concorrente” e continuar chefiando a rede de jogos no Estado.
Segundo investigações do MP, o empresário saía do trabalho no carro dele quando o ex-cabo Hércules e Célio Alves se aproximaram em uma moto. “Hércules disse que foi ele quem pilotou a moto no dia do crime e que Célio atirou”, lembra João Bosco. A arma utilizada no crime foi uma pistola calibre 380.
Crimes semelhantes
O delegado observou que Célio teria dito a Hércules que soube, por meio de José Jesus de Freitas, que Arcanjo era o mandante do crime. O assassinato foi executado de forma semelhante a outros crimes de pistolagem ocorridos naquela época, como dos empresários Rivelino Brunini, Fause Rachid Jaudy e Domingos Sávio Brandão. Todos foram assassinados por uma dupla em moto, com pistola e à luz do dia.
tvca