A demanda aquecida começa a preocupar as indústrias da construção civil com uma possível crise de desabastecimento de insumos. Sondagem da FGV (Fundação Getulio Vargas) com empresários do setor mostra que, no segmento de materiais de construção, a possibilidade de não atender encomendas em decorrência do esgotamento da capacidade produtiva aumentou de 39%, em 2005, para 57%, neste ano.
O percentual é, de longe, o maior entre os setores da indústria de transformação pesquisados, que englobam ainda bens de consumo, bens de capital e bens intermediários –todos em torno de 30%.
Ainda assim, as taxas médias de expansão da capacidade produtiva em materiais de construção –5% em 2007 e previsão de 9% em 2008- são as menores dentro da indústria. Já para o triênio 2008-2010, a perspectiva se inverte e o percentual (28%) é o maior.
“A preocupação [com o desabastecimento] existe, mas, se todo mundo se planejar, é possível ter isso sob controle”, avalia João Claudio Robusti, presidente do SindusCon-SP (Sindicato da Indústria da Construção Civil) do Estado de São Paulo. As empresas de médio porte, diz, são as que inspiram mais cuidado, pois as grandes estão fazendo contratos de longo prazo para evitar problemas no andamento das obras, que duram, em média, 18 meses.
Por meio de nota, a Abramat (Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção) disse que “os investimentos no aumento da capacidade de produção se mantêm superiores ao crescimento do PIB [Produto Interno Bruto]”. Pesquisa da entidade mostrou que 61% das empresas consultadas pretendem fazer investimentos relevantes nos próximos 12 meses.
Ano crítico
Para Ana Maria Castelo, consultora da FGV Projetos que apresentou palestra sobre o tema ontem na sede do sindicato, “o ano de 2008 será o mais crítico” porque os investimentos feitos pela indústria quando a demanda começou a ficar aquecida ainda não estarão plenamente disponíveis, com o necessário aumento na capacidade de produção. O PIB da construção civil caiu 7,3% de 2001 a 2003 e cresceu 21,7% entre 2004 e 2007.
Por isso, afirma, é fundamental que haja maior planejamento das construtoras para evitar atrasos nas obras. “Numa perspectiva de curto prazo, pode haver gargalos localizados”, alerta, citando como exemplo a falta de cimento que ocorreu no Centro-Oeste no segundo semestre do ano passado.
Nos últimos 12 meses, foi justamente o cimento que teve a maior variação nominal (25,88%) entre os insumos comprados pelas construtoras no Estado de São Paulo, seguido de concreto (14,88%), brita (13,24%) e areia (10,36%).
No mesmo período, o CUB (Custo Unitário Básico) registrou alta de 7,58%, puxado pelos materiais (7,95%). Já o INCC (Índice Nacional da Construção Civil), também medido pela FGV, subiu 6,18%.
Ana Maria cita como um dado positivo o fato de que o nível de utilização da capacidade instalada é menor nas indústrias de material de base (83%) -cimento, aço, tubos e conexões- do que nas de material de acabamento (86%).
Outro entrave apontado pela pesquisadora é a mão-de-obra, pois faltam trabalhadores qualificados, o que valoriza os salários dos que estão no mercado.
Financiamento
Os dados da Abecip (Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança) indicam que o mercado deve continuar aquecido. Os financiamentos imobiliários com recursos da poupança atingiram R$ 20,3 bilhões nos 12 meses terminados em fevereiro, o dobro do movimentado no período anterior. Em quantidade, 213.269 unidades foram financiadas, contra 120.342 nos 12 meses anteriores.
F.on.L