Até este mês, os cubanos tinham de comprar remédios receitados por seu médico na farmácia do seu bairro, uma medida para otimizar a distribuição de recursos durante a crise que se seguiu ao fim da ajuda soviética, na década passada.
“Havia muitas queixas da população. Quando não tínhamos o medicamento era preciso desviar o paciente para outra farmácia, o que requeria trâmites. As pessoas perdiam muito tempo”, disse a administradora de uma drogaria no centro de Havana.
“Agora nos disseram que temos de atender a todos os pacientes. O que querem é que as pessoas não se aborreçam”, acrescentou.
Raúl Castro sucedeu formalmente seu irmão Fidel, no mês passado, prometendo eliminar o “excesso de proibições” em Cuba, onde o Estado domina a economia.
A proliferação de regulamentos deu origem a um mercado negro, entre outras ilegalidades reconhecidas pelo próprio governo, até para os medicamentos.
“Agora os que ficavam ricos revendendo remédios terão de buscar outra via, porque ninguém vai gastar dinheiro se tem o medicamento à mão, esteja onde estiver”, disse Regina, aposentada de 75 anos, enquanto comprava um medicamento contra úlcera.
Em poucas semanas como presidente, Raúl Castro começou a tomar pequenas medidas para eliminar regras absurdas e tornar o socialismo cubano mais eficiente.
“Em dezembro falei do excesso de proibições e regulamentos, e nas próximas semanas começaremos a eliminar as mais simples”, disse Raúl — que já governava interinamente desde 2006 — ao ser eleito pelo Parlamento, em 24 de fevereiro.
Nas últimas semanas foi liberada a venda no varejo de computadores, aparelhos de DVD e outros eletrodomésticos.
Na semana passada, a Reuters noticiou que o governo vai liberar também o acesso dos agricultores a insumos necessários para elevar a produção de alimentos.
Embora as medidas não tenham sido anunciadas oficialmente, o Granma, jornal oficial do Partido Comunista, disse que poderia ser suspensa também a proibição de que cubanos se hospedem em hotéis até agora reservados a estrangeiros.
Muitos cubanos esperam também a revalorização do peso com que o Estado paga os salários, em relação ao peso “conversível”, que vale 24 vezes mais e é a moeda usada para a compra de produtos importados.
Mudanças econômicas
Na segunda-feira, no que parece ter sido a maior iniciativa econômica adotada até agora pelo presidente Raúl Castro para reativar essa área fundamental da ilha caribenha, o governo comunista de Cuba começou a descentralizar seu setor agrícola, controlado pelo Estado.
Analistas descreveram a descentralização como uma “revolução” na agricultura, a área prioritária de Raúl para reduzir as importações e melhorar a economia de Cuba.
“Descentralizar o processo de tomada de decisões no setor agrícola é um sinal muito claro de que Raúl Castro deseja tornar mais dinâmica a economia cubana e mais capaz de atender às necessidades da população”, afirmou David Jessop, diretor do Conselho Caribenho, uma organização de ajuda ao desenvolvimento dessa região, com sede em Londres.
Ao tomar posse oficialmente como presidente de Cuba, no dia 24 de fevereiro, depois de passar um ano e meio substituindo em caráter provisório seu irmão doente Fidel Castro, Raúl prometeu modernizar a estrutura do Estado e torná-la mais eficiente.
O novo modelo deve reduzir a burocracia nos órgãos agrícolas municipais. “Ao abarcar os setores privados, eles estão aceitando a possibilidade e a validade de modelos alternativos de produção dentro do sistema socialista”, afirmou Jessop.