As condições às quais são submetidos os reféns mantidos em cativeiro pela guerrilha das Farc (Forças Revolucionárias da Colômbia) são semelhantes às de um campo de concentração, declarou nesta quinta-feira um dos quatro ex-parlamentares libertados na quarta-feira.
“As condições de reclusão são as de um campo de concentração”, disse, em um emocionado relato de seu cativeiro na selva o ex-senador Luis Eladio Pérez, um dia depois de ter sido entregue pelas Farc ao governo da Venezuela e ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha junto com Gloria Polanco de Lozada, Orlando Beltrán Cuéllar e Jorge Eduardo Gechem Turbay.
Reuters
Os ex-reféns: Gloria Polanco, Orlando Beltran, Jorge Gechem e Luis Eladio Perez
Embora não tenha entrado em maiores detalhes, o ex-refém contou que, em uma de suas travessias durante o cativeiro, pernoitou em território equatoriano.
“Eu dormi no Equador. Com isso digo tudo. Usávamos botas equatorianas, desodorantes e remédios brasileiros, sabonetes venezuelanos”, relatou Pérez.
Durante uma entrevista à rádio colombiana Caracol, Pérez disse que ele, assim como a política franco-colombiana Ingrid Betancourt, de quem se tornou confidente no cativeiro, foram maltratados por parte dos guerrilheiros.
Betancourt
“Eu era mal visto pela guerrilha porque sempre contestei as coisas. Não titubeei. Claro, Ingrid fazia o mesmo, com uma dignidade e valentia excepcionais”, afirmou Pérez, após contar sobre uma frustrada tentativa de fuga que resultou no acorrentamento da franco-colombiana.
“A situação se tornou muito complicada e isso gerou uma situação de maus-tratos permanente. Há muita repressão (em relação a Betancourt), dizem que somos burgueses, que somos políticos, enfim, tudo isso gerou um clima bastante desagradável com os guerrilheiros, que sempre tentavam amargar nossa vida em todos os aspectos”, afirmou.
No entanto, o ex-refém garantiu que os guerrilheiros não tentarão matar Betancourt, porque “ela representa um pote de ouro para os rebeldes”.
“Achei que iam me matar. Cheguei a deixar com Ingrid uma mensagem para minha família, porque sempre entendi que ela não seria assassinada, porque indiscutivelmente para as Farc Ingrid é o pote de ouro neste maldito processo”, disse o ex-refém.
O presidente francês, Nicolas Sarkozy, afirmou que a libertação de Ingrid Betancourt, refém desde 2002, é “uma questão de vida ou morte”.
Sarkozy se declarou disposto a ir buscar Betancourt pessoalmente na fronteira entre Venezuela e Colômbia.
“O sofrimento de Betancourt é o sofrimento de toda a França”, afirmou. Em comunicado divulgado hoje pelo Palácio do Palácio do Eliseu, Sarkozy pediu ao presidente da Venezuela, Hugo Chávez, para solucionar o seqüestro de Betancourt, que se encontraria em um debilitado estado de saúde.
“Eu me dirijo ao presidente Chávez e elogio seu envolvimento e seus esforços, que permitiram devolver na quarta-feira à vida outros quatro reféns”, afirma o comunicado.
“Peço a ele que use toda a sua influência para salvar a vida de Betancourt. Não podemos esperar mais. Trata-se de uma questão de vida ou morte”, acrescentou o presidente francês.
Reféns americanos
Pérez afirmou ainda que os três reféns americanos, Marc Gonsalves, Thomas Howes e Keith Stansell, pediram a ele que entregasse cartas ao presidente George W. Bush e a alguns pré-candidatos à Casa Branca, mas que as mensagens foram confiscadas pela guerrilha.
“Eu trazia algumas cartas que os três americanos que estavam comigo escreveram ao presidente Bush, cada um individualmente”, afirmou. Também havia mensagens dos três reféns para a presidente democrata da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi, para o pré-candidato presidencial republicano John McCain e para seus rivais democratas Barack Obama e Hillary Clinton.
O ex-parlamentar disse que “infelizmente em una revista” os guerrilheiros confiscaram o material, que também incluía mensagens a outros congressistas democratas dos EUA, “solidários” ao drama dos reféns.
No entanto, Pérez afirmou se lembrar de elementos que prometeu tornar públicos “no devido momento”, entre os quais cartas de dois militares.
O ex-senador colombiano negou que as Farc estejam dizimadas, como afirma o governo de Alvaro Uribe, e diz que o movimento se fortaleceu com um “imposto” cobrado junto aos comerciantes de coca.
Com France Presse e Efe