Claro que existem diferenças entre Hillary Clinton e Barack Obama. E obviamente não estamos falando de sexo ou raça. Os dois debatem exaustivamente quem tem o melhor plano de seguro de saúde ou quem irá recolocar a política externa americana nos eixos. Mas, no final das contas, sexo e raça acabam sendo realçados também por não existirem diferenças gritantes nos programas de governo (ou de campanha).
Barack Obama impôs a agenda desta campanha presidencial, até para os republicanos, ao bater na tecla da mudança. Os candidatos passaram a prometer mundos, fundos e mudanças. Hillary vende seu pacote de figura experiente, mas também embarcou na onda da mudança. As diferenças estão nas teorias de mudança. Na narrativa de Hillary Clinton, existe a advertência condescendente que “fazer mudanças é difícil”, como ela tem enfatizado em comícios.
E aí vem a explicação que os resultados efetivos pelo bem da nação somente serão obtidos por alguém com planos cuidadosos e dureza para enfrentar os republicanos nas trincheiras de Washington. HIllary relembra que conhece bem o inimigo. Diante do comentário do componente dinástico de sua ambição presidencial, ela tem a tirada pronta. Foi preciso um Clinton para varrer um Bush da Casa Branca. Agora um segundo Clinton irá terminar a limpeza com Bush filho.
Obama reage `a condescendência de Hillary lembrando uma obviedade: “Eu sei como é difícil fazer mudanças”. Mas aí ele retoma a sua narrativa, com a promessa de transcender as velhas batalhas (nas quais HIllary supostamente tem experiência, feridas e cicatrizes), construindo um movimento de baixo para cima (com referência `a sua “experiência” de líder comunitário em Chicago). Esta onda, na narrativa de Obama, irá criar pressões inexoráveis por reformas, atraindo até os republicanos. Obama insiste que planos cuidadosos e o conhecimento da máquina de Washington são insuficientes. É preciso, mais do que voluntarismo, “vontade política ou poder político”. Hillary pode ter as ambições, mas irá carecer do poder pois é uma figura que polariza em uma cidade que já é dividida.
Barack Obama é um perigo para Hillary, na medida em que sua narrativa corta a rival pela direita e pela esquerda. Ele se posiciona como um estadista, apesar do mocismo, com os acenos de cooperação com conservadores , mas também assume um ativismo implacável para conseguir mudanças. É um cenário tentador para uma certa base de eleitores e aterrador para políticos do establishment como Hillary Clinton.
A ex-primeira-dama garante consertos, com bom senso. O político de carreira meteórica promete a salvação, com apelo emocional.