Tensões políticas se intensificam à medida que o real atinge o maior valor frente ao dólar em meio a medidas fiscais e ajustes econômicos
A moeda norte-americana atingiu nesta sexta-feira, 29 de novembro, o valor recorde de R$ 6,11. Este é o maior patamar já registrado, superando os R$ 5,98 alcançados na véspera.
A alta reflete refletindo um ambiente de instabilidade econômica e fiscal no Brasil. O movimento é impulsionado por desconfianças do mercado em relação às medidas anunciadas pelo governo federal para contenção de gastos públicos.
O aumento do dólar ocorre em um contexto de reação negativa aos anúncios feitos pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, na última quinta-feira, 28 de novembro.
O pacote inclui cortes de R$ 70 bilhões nos próximos dois anos e prevê mudanças em áreas sensíveis como salário mínimo, benefícios sociais e aposentadoria de militares. Apesar de inicialmente bem recebido, o mercado financeiro avaliou que as medidas trouxeram mais dúvidas do que soluções.
A disparada do dólar gerou reações de diferentes setores políticos. Parlamentares da base governista e da oposição se manifestaram, apontando responsabilidades e divergências sobre o impacto das medidas econômicas.
O senador Magno Malta (PL-ES) criticou duramente as ações do governo, associando o aumento do dólar ao pacote anunciado por Haddad.
“Em vez de cortar gastos, este desgoverno de esquerda trouxe um pacote desastroso de mais impostos. O único corte que tivemos foi no nosso prato. Dólar disparado, carne virando artigo de luxo, e o sofrimento dos brasileiros só aumenta”, afirmou.
Já o deputado José Medeiros (PL-MT) destacou a falta de confiança do mercado na condução da política econômica do governo. Ele apontou as incertezas geradas pelas medidas anunciadas como o principal motivo para a valorização do dólar.
“A manobra claudicante do governo ao não dar certeza sobre a real possibilidade de compensação da isenção foi o gatilho. Investidor corre longe de incertezas, e o fato é que ninguém confia mais que o Haddad tenha o controle da economia. A foto de ministros que estavam lá para defender gastos decidindo como seria o ‘corte’ de gastos anulou qualquer possibilidade de alguém levar a sério esse momento ‘austeridade’ do governo”, criticou Medeiros.
Governistas culpam Roberto Campos Neto pela disparada do dólar
Por outro lado, aliados do governo responsabilizaram o Banco Central pela disparada da moeda norte-americana. O deputado Carlos Veras (PT-PE), vice-líder da sigla na Câmara, criticou a postura do presidente do BC, Roberto Campos Neto.
“Ele tem o dever, como autoridade monetária, de intervir no mercado para segurar a especulação diante da isenção do IR até R$ 5 mil. É sabido que a nova alíquota será vinculada a quem ganha acima de R$ 50 mil por mês, sem impacto nenhum para a arrecadação. A omissão do BC é extremamente nociva ao país e ao povo brasileiro”, pontuou Veras.
O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) adotou um tom mais crítico ao mercado financeiro e sua influência nas decisões econômicas do país.
“O tal ‘mercado’, esse ente poderoso e especulativo – que subordina a mídia grande, sua fiel porta-voz -, ‘fala’ também através da cotação do dólar. Considerou que o ‘corte de gastos’ anunciado por Haddad foi ‘insuficiente’ e resolveu chantagear: dólar chegou a R$ 6”, declarou.
Presidentes da Câmara e do Senado reafirmam compromisso com a responsabilidade fiscal
Já o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), reforçou o compromisso da Casa com a responsabilidade fiscal, sinalizando que eventuais renúncias de receitas serão avaliadas com cautela.
“Reafirmo o compromisso inabalável da Câmara dos Deputados com o arcabouço fiscal. Toda medida de corte de gastos que se faça necessária para o ajuste das contas públicas contará com todo esforço, celeridade e boa vontade da Casa. Inflação e dólar altos são mazelas que atingem de forma mais severa os mais pobres. Qualquer outra iniciativa governamental que implique em renúncia de receitas será enfrentada apenas no ano que vem, e após análise cuidadosa”, destacou Lira.
O dólar acumula uma valorização expressiva de 3,02% na semana, 3,21% no mês e 23,42% no ano. Desde o início da semana, a moeda vinha se fortalecendo gradativamente, impulsionada por rumores sobre o pacote de cortes que seriam anunciados. Após a confirmação das medidas, o avanço se intensificou, com o mercado reagindo de forma imediata.
A alta histórica do dólar e o clima de incerteza econômica reforçam os desafios enfrentados pelo governo. O mercado financeiro segue atento às discussões no Congresso sobre as medidas anunciadas e ao impacto dessas ações nos indicadores econômicos nos próximos meses.
Fonte: Brasil Paralelo