Garcia voltou nesta terça-feira da Venezuela, onde foram suspensas as negociações de resgate de Clara Rojas, ex-candita à vice-presidência colombiana, seu filho nascido em cativeiro, o pequeno Emmanuel, e a ex-parlamentar Consuelo González. O assessor retornou ao Brasil no final da tarde desta terça-feira e falou com a imprensa ainda na Base Aérea de Brasília após cinco dias em Caracas.
De acordo com Garcia, as duas primeiras etapas previstas para a libertação dos reféns foram cumpridas, mas o mais importante – que era a libertação – não aconteceu. As Farc alegaram, em nota, que houve um aumento da militarização colombiana na região e isso teria impedido a liberação dos reféns. Marco Aurélio Garcia não confirmou a alegação. Segundo ele, o governo colombiano estava trabalhando junto à Venezuela por um “corredor”, isto é, uma zona neutra e desmilitarizada para garantir as negociações com as Farc.
Segundo agências internacionais de notícias, a operação de resgate atenderia à decisão das Farc, que haviam decidido libertar – como um “ato de desagravo” ao presidente venezuelano, Hugo Chávez – os três reféns.Ontem , Chávez afirmou que a libertação dos reféns não seria possível e o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, disse que Emmanuel não estaria mais sob poder das Farc. A suspeita é que Emmanuel esteja em Bogotá, com nome falso e sob cuidados de um órgão oficial. Para confirmar o fato, o governo venezuelano permitiu a entrada de especialistas para realizar um teste de DNA com os parentes de Clara Rojas para confirmar se o garoto que está em Bogotá é ou não Emmanuel.
O assessor da presidência adiantou que vai tentar falar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ainda nesta terça-feira sobre a questão. “Não gosto de atrapalhar o descanso do presidente, mas vou tentar falar com ele”, afirmou Garcia, ressaltando que o presidente também ficou bastante frustrado com o resultado da operação. O presidente Lula tem estado em contato com os presidentes da Colômbia e da Venezuela, oferecendo seu apoio. A participação do Brasil na questão, segundo o assessor, é de cooperação com os dois países. Garcia afirmou que a idéia é despolitizar a situação, aproximando-a de uma ação mais humanitária.
Garcia disse que, apesar de considerar que ninguém perdeu com a suspensão da operação de resgate, o resultado final frustrou a todos. Segundo ele, os parentes dos reféns estão aguardando em Caracas e o fato atraiu a atenção, inclusive, da mídia internacional.Garcia descartou, ainda, a possibilidade de o governo de Hugo Chávez, da Venezuela, estar trabalhando com uma “estratégia clandestina”, isto é, uma ação armada e independente de resgate dos prisioneiros das Farc. O assessor também não acredita que o motivo pelo qual a operação foi frustrada seja uma disputa política entre Colômbia e Venezuela. Segundo ele, os dois governos agiram de forma rápida e com infra-estrutura adequada para atender às exigências das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia.
Para ele, se houver uma retomada das negociações, o que ainda não tem prazo para acontecer, será necessário verificar se o cenário político é favorável. Para analistas internacionais, a operação poderia ter sido realizada de outro modo, o que explicaria o fracasso no empenho venezuelano.
O mérito da operação, para Garcia, é que o tema das ações das Farc foi recolocado no cenário mundial, trazendo discussão sobre a questão, deixando de ser um assunto “escondido debaixo dos panos”.