Na próxima semana, observadores do céu poderão testemunhar a passagem do cometa C/2023 A3 (Tsuchinshan-ATLAS), que está sendo chamado de “Cometa do Século” – um apelido controverso. Neste momento, o objeto está mais próximo do Sol, o que dificulta sua observação, mas a partir de domingo (15), será mais fácil vê-lo no Hemisfério Sul.
- No início de 2023, dois programas de observação astronômica – Tsuchinshan e ATLAS – descobriram de forma independente o cometa C/2023 A3 (Tsuchinshan-ATLAS);
- Este objeto vinha prometendo ser um espetáculo visível a olho nu no céu nos últimos meses de 2024, sendo possivelmente o cometa mais brilhante dos últimos tempos;
- Com sua passagem mais próxima da Terra prevista para 12 de outubro, a cerca de 70,6 milhões de km, foi estimado por alguns que ele seria mais brilhante até mesmo do que Júpiter;
- No entanto, em julho, o astrônomo tcheco-americano Zdenek Sekanina publicou uma análise sugerindo que o cometa poderia não resistir à sua jornada, fragmentando-se antes de sua aproximação máxima;
- Sekanina observou sinais de desintegração à medida que o cometa se aproximava do Sol, levantando dúvidas sobre sua sobrevivência;
- Dois meses após essa previsão, o cometa Tsuchinshan-ATLAS continua a mostrar sinais de estabilidade, sem indícios claros de desintegração;
- Estudos, no entanto, apontam que isso ainda pode acontecer.
“No dia 27 de setembro, o cometa Tsuchinshan-ATLAS deve atingir seu ponto mais próximo do Sol (chamado de periélio) e, de acordo com os cálculos, já deverá estar tão luminoso quanto Sirius, a estrela mais brilhante do céu noturno [que tem aparente de −1,46]”, disse Marcelo Zurita, presidente da Associação Paraibana de Astronomia (APA), membro da Sociedade Astronômica Brasileira (SAB), diretor técnico da Rede Brasileira de Observação de Meteoros (BRAMON) e colunista do Olhar Digital.
Cometa C/2023 A3 terá dois momentos de visibilidade
Segundo Zurita, o cometa terá dois momentos de visibilidade, com o primeiro começando na próxima semana. “A partir de domingo, nos finais das madrugadas, ele deve aparecer ao leste, pouco antes do amanhecer e vai estar cada dia mais alto no céu até o dia 28. A partir de então vai ‘despencar’ em direção ao Sol, deixando de ser visível no dia 4 de outubro e reaparecendo novamente a partir do dia 12 ao anoitecer, na direção oeste”.
No entanto, o astrônomo lembra que alguns estudos indicam que o cometa pode se desintegrar antes disso. “Então, a recomendação é aproveitar as chances de observação a partir da próxima semana e torcer para que ele sobreviva ao periélio. E se isso acontecer, aí teremos provavelmente um espetáculo ao anoitecer durante o mês de outubro”.
Zurita orienta utilizar um aplicativo astronômico, como o SkyMap, que pode ajudar a localizar o cometa C/2023 A3 no céu. O objeto poderá ser facilmente observado através de um binóculo ou, quem sabe, a olho nu. “O melhor é tentar fazer isso em um local com horizonte limpo a oeste, preferencialmente distante das grandes cidades, cuja iluminação pode ofuscar a visibilidade do astro”.
Apelido do objeto é um exagero
Sobre o apelido “cometa do século”, Zurita discorda. “É um exagero. Talvez o cometa da década. Em 2007, teve um cometa muito luminoso, o McNaught, que vai ser difícil bater”. Segundo ele, a magnitude daquele objeto foi de -5.5, enquanto a expectativa para o C/2023 A3 é de -1.7 (bem menos brilhante do que os -4 estimados em fevereiro). Lembrando que quanto mais brilhante um corpo parece, menor é o valor de sua magnitude (relação inversa). O Sol, por exemplo, que é o objeto mais brilhante do céu, tem magnitude aparente de -27.
Jonathan Shanklin, da Seção de Cometas da Associação Astronômica Britânica (BAA), destacou ao site Space.com que há variações significativas nas observações de diferentes astrônomos, o que pode influenciar as estimativas de brilho. Ele explicou que alguns observadores consistentemente superestimam ou subestimam o brilho dos cometas, criando uma margem de erro considerável nas medições.
Neste link, você acessa as informações atualizadas sobre o cometa C/2023 A3.
A lista abaixo, elaborada por Zurita após uma pesquisa em 2022, relaciona os cometas mais brilhantes de cada ano desde 2000, juntamente com seus brilhos máximos atingidos:
- 2000: Cometa LINEAR (C/1999 S4) – brilho máximo de magnitude -3.0
- 2001: Cometa LINEAR (C/2001 A2) – brilho máximo de magnitude 3.3
- 2002: Cometa Ikeya-Zhang (C/2002 C1) – brilho máximo de magnitude -1.5
- 2003: Cometa NEAT (C/2001 Q4) – brilho máximo de magnitude -1.3
- 2004: Cometa Bradfield (C/2004 F4) – brilho máximo de magnitude 6.0
- 2005: Cometa Machholz (C/2004 Q2) – brilho máximo de magnitude 3.2
- 2006: Cometa Swan (C/2006 M4) – brilho máximo de magnitude 3.3
- 2007: Cometa McNaught (C/2006 P1) – brilho máximo de magnitude -5.5
- 2008: Cometa Holmes (17P/Holmes) – brilho máximo de magnitude -1.0
- 2009: Cometa Lulin (C/2007 N3) – brilho máximo de magnitude 5.9
- 2010: Cometa McNaught (C/2009 R1) – brilho máximo de magnitude 5.1
- 2011: Cometa Lovejoy (C/2011 W3) – brilho máximo de magnitude -3.3
- 2012: Cometa Pan-STARRS (C/2011 L4) – brilho máximo de magnitude 1.3
- 2013: Cometa ISON (C/2012 S1) – brilho máximo de magnitude -0.5
- 2014: Cometa Jacques (C/2014 E2) – brilho máximo de magnitude 6.5
- 2015: Cometa Lovejoy (C/2014 Q2) – brilho máximo de magnitude 4.0
- 2016: Cometa Catalina (C/2013 US10) – brilho máximo de magnitude 5.5
- 2017: Cometa Johnson (C/2015 V2) – brilho máximo de magnitude 5.5
- 2018: Cometa PanSTARRS (C/2017 S3) – brilho máximo de magnitude 6.0
- 2019: Cometa Atlas (C/2019 Y4) – brilho máximo de magnitude 8.0
- 2020: Cometa Neowise (C/2020 F3) – brilho máximo de magnitude -1.0
- 2021: Cometa Leonard (C/2021 A1) – brilho máximo de magnitude 2.5
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