Dois acidentes na BR-364 em menos de um mês envolvendo microônibus do transporte intermunicipal rodoviário, também chamados de vans, despertaram questionamentos sobre a qualificação e as condições de trabalho dos profissionais que dirigem os veículos. Na batida mais grave deste ano, na última segunda-feira, oito pessoas morreram e 15 ficaram feridas. Há suspeitas de que a tragédia tenha sido causada por imprudência do motorista durante uma ultrapassagem.
Muitos passageiros que antes preferiam o chamado transporte alternativo por conta da comodidade, agora estão migrando para os ônibus convencionais em busca de segurança. O Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Terrestre do Estado (Sttet) garante que há uma grande diferença entre a preparação de motoristas de empresas do transporte convencional para as demais.
“O transporte alternativo é muito inferior. Nem se compara aos critérios de seleção de uma empresa grande”, avalia o presidente do Sttet, Ledevino Conceição. O sindicalista aponta que, no caso das vans, o principal problema é o excesso de velocidade.
“Como eles recolhem os passageiros em casa, e isso demora, os motoristas tentam reduzir o tempo na estrada, para competir com os ônibus grandes”, diz. Cada micro comporta 21 passageiros.
Os quesitos analisados pelas empresas convencionais e pelas alternativas na hora de contratar são parecidos, mas quando o assunto é treinamento, na segunda praticamente não há. Para se tornar um funcionário da empresa Executiva Norte, proprietária das vans envolvidas nos acidentes, é preciso ter três anos de experiência e carteira do tipo D ou E.
Contudo, os cursos de direção defensiva e de primeiros socorros são apenas os ministrados pelo Detran durante a habilitação. “Nós conversamos todas as semanas com os motoristas e também acompanhamos diariamente os tacógrafos (que indicam as velocidades em que os carros circularam)”, afirma o encarregado dos motoristas e da manutenção da empresa, Roberto Teixeira.
Na outra ponta, a empresa de transporte rodoviário convencional Andorinha, por exemplo, exige que o candidato a motorista tenha cinco anos de experiência em rodovias comprovados em carteira. Após a seleção, é feito um teste prático com dois instrutores da empresa e, em seguida, um teste teórico com legislação de trânsito, em que é preciso acertar no mínimo 75% da prova.
Se o concorrente passa nos testes, vai para a matriz da empresa, em São Paulo, e passa duas semanas em exames médicos e fazendo cursos de primeiros socorros e direção defensiva. “Após a contratação, os instrutores acompanham o motorista nas viagens dos primeiros 40 dias”, detalha o encarregado de tráfego da empresa, Gildomar Alves.
Nesse tipo de transporte, geralmente o motorista tem plano de saúde, e no alternativo não. Já em relação ao salário, a diferença é pequena, nos dois casos varia entre R$ 800 a R$ 1.200.