Mundo está passando por onze meses consecutivos de temperaturas anormalmente altas, tanto no ar quanto na superfície dos oceanos
A Costa Rica possui uma matriz energética verde em que 99% da produção provém de fontes renováveis. Dessa produção limpa, 75% é gerada em hidrelétricas, que foram afetadas pela falta de chuvas no período de seca (novembro-maio). Esse será o primeiro racionamento de energia desde 2007, quando o El Niño também causou problemas. Os cortes começarão na segunda-feira (13) em toda a Costa Rica, com um máximo de três horas por cliente de forma alternada. Hospitais, centros de saúde, serviços básicos e indústria não serão afetados, segundo o ICE.
A medida tem duração indeterminada e dependerá da quantidade de água que cair nas próximas semanas. A temporada de chuvas vai de maio a novembro. O ICE recomendou que a população faça uso responsável da energia elétrica e não desperdice seu consumo, uma vez que os reservatórios estão em níveis criticamente baixos. Equador e Colômbia também têm sofrido com o racionamento de energia, devido à falta de água para alimentar as usinas hidrelétricas.
11 meses de temperaturas anormais
Não são apenas os países da América Latina que têm sofrido com o calor e os impactos do El Niño. O mundo inteiro tem sofrido as consequências. Segundo o observatório europeu Copernicus, mundo está passando por onze meses consecutivos de temperaturas anormalmente altas, tanto no ar quanto na superfície dos oceanos, apesar do enfraquecimento do fenômeno climático natural El Niño. A temperatura da superfície dos oceanos bateu um recorde mensal em abril, com uma média de 21,04°C fora das zonas próximas aos polos, marcando o décimo terceiro recorde mensal consecutivo. O globo terrestre tem registrado uma média de temperatura anormal desde junho do ano passado. Abril de 2024 não é exceção a essa regra, com uma temperatura média de 15,03°C, o que representa 1,58°C a mais do que um mês de abril médio da era pré-industrial (1850-1900).
“Embora incomum, uma série semelhante de recordes mensais já foi observada em 2015/2016”, observou o Copernicus. Nos últimos doze meses, a temperatura global tem sido 1,61°C mais alta do que na era pré-industrial, ultrapassando o limite de 1,5°C estabelecido pelo acordo de Paris. No entanto, essa anomalia precisa ser observada em média por várias décadas para considerar que o clima atingiu esse limite crítico. O mês passado foi o segundo abril mais quente já registrado na Europa, assim como março e todo o período de inverno. “Cada grau adicional de aquecimento climático é acompanhado por eventos climáticos extremos, tanto mais intensos quanto mais prováveis”, lembrou Julien Nicolas.
calor
As últimas semanas têm sido marcadas por ondas de calor extremo na Ásia, da Índia ao Vietnã, enquanto o sul do Brasil sofre com inundações devastadoras. No entanto, em termos de precipitação, o Copernicus não identifica tendências claras para abril, relatando contrastes significativos em todo o mundo. O mês foi mais úmido do que o normal em grande parte da Europa, mas mais seco no sul do continente e em partes dos Bálcãs e da Rússia. A situação é semelhante fora da Europa: em grande parte da América do Norte, Ásia Central e Oriental, Golfo Pérsico e sul do Brasil, chuvas intensas causaram inundações, que continuaram em maio. Mas no norte do México, ao redor do Mar Cáspio e em grande parte da Austrália, a seca tem predominado.
“El Niño atingiu seu pico no início do ano”, observa Julien Nicolas, o que pode explicar uma diminuição em certos valores: em abril, a anomalia da temperatura do ar é menos pronunciada do que em março, em comparação com a era pré-industrial, e a temperatura da superfície do oceano é menos quente do que em março. “Os modelos de projeção indicam uma possível transição para condições La Niña na segunda metade do ano, mas as condições ainda são bastante incertas”, continua o climatologista. La Niña é o oposto de El Niño, produzindo efeitos contrários. No entanto, a saída de El Niño não alterará a tendência fundamental do aquecimento causado pela atividade humana. “Este fenômeno se sobrepõe a tendências de longo prazo que persistem e estão diretamente relacionadas ao aquecimento devido ao aumento das concentrações de gases de efeito estufa na atmosfera e às quantidades de calor que são absorvidas e armazenadas, especialmente nos oceanos”, destaca Nicolas.
*Com informações da AFP-JovemPan