sábado, 05/10/2024
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A carta do comandante da Marinha contra tratar “subversivo” como herói

Sampaio Olsen, comandante da Marinha, protesta contra o projeto para inscrever o líder da Revolta da Chibata no Livro dos Heróis da Pátria

Fonte: Metrópoles/Mário Sabino

Transcrevo a carta que o almirante Marcos Sampaio Olsen, comandante da Marinha, enviou ao deputado federal do Paraná Aliel Machado, do Partido Verde, presidente da Comissão de Cultura da Câmara. Sampaio Olsen expressa a sua contrariedade com a possível inscrição do nome de João Cândido Felisberto, líder da Revolta da Chibata, em 2010, no Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria.

A Revolta da Chibata é um episódio ocorrido na República Velha glorificado pela esquerda, apesar das suas tintas controversas. O projeto para incluir o nome do seu líder no Livro de Heróis e Heroínas da Pátria é de autoria do petista Lindbergh Farias, quando ele era senador, e já foi aprovado no Senado.

Em determinado trecho, o comandante da Marinha afirma que “Nos dias atuais, enaltecer passagens afamadas pela subversão, ruptura de preceitos constitucionais organizadores e basilares das Forças Armadas e pelo descomedido emprego da violência de militares contra a vida de civis brasileiros é exaltar atributos morais e profissionais, que nada contribuirá ao pleno estabelecimento e manutenção do verdadeiro Estado Democrático de Direito”.

Eis o conteúdo da carta:

“Excelentíssimo Senhor
Deputado Federal ALIEL MACHADO
Presidente da Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados
BRASÍLIA, DF. Em 22 de abril de 2024.

Ao cumprimentá-lo cordialmente, dirijo-me a Vossa Excelência para tratar do Projeto ed Lei n° 4046/2021, que propõe a inscrição do nome de JOÃO CÂNDIDO FELISBERTO no Livro dos Heróis e
Heroínas da Pátria, insurgente da Revolta de Marinheiros ocorrida em navios da Esquadra, em 1910.

Digno de registro que o episódio constitui para a Marinha do Brasil (MB), fato opróbio da história, cujo estopim se deu pela atuação violenta de abjetos marinheiros que, fendendo hierarquia e disciplina, utilizaram equipamentos militares para chantagear a nação, disparando, a esmo, os canhões de grosso calibre dos apoderados Encouraçados contra a então Capital Federal e uma população indefesa, ceifando a vida de duas crianças, atingidas no Morro do Castelo.

Mister rememorar dentre as reivindicações apresentadas por manifesto de rebelados ao Governo brasileiro: o aumento de salários; a exclusão de Oficiais considerados – por eles – indignos de servir à Marinha; e regime de trabalho menos exigente. Notável, então, entender que, além do justo pleito pela revogação da prática repulsiva do açoite, buscavam, deliberadamente, vantagens corporativistas e ilegítimas.

Os castigos físicos levados a cabo nos navios, prática inaceitável, sob perspectiva alguma, e absolutamente incompatível com os caros preceitos morais observados pela sociedade contemporânea, foram reconhecidos, posteriormente, como equivocados e indignos, e os insurgentes, inclusive, anistiados. Porém, resta notável diferença entre reconhecer um erro e enaltecer um heroísmo infundado.

Aponto, por conseguinte, que incluir, no Livro de Heróis da Pátria, João Cândido Felisberto ou qualquer outro participante daquela deplorável página da história nacional, quando o patrimônio público foi destruído e o sangue de brasileiros inocentes derramado, seria o mesmo que transmitir à sociedade e, em particular, aos militares de hoje a mensagem de que é lícito recorrer as armas que lhes foram confiadas para reivindicar suposto direito individual ou de classe.

Convicto que não é competência da MB julgar argumentações de membros dessa Casa Legislativa, manifesto que a Força Naval não vislumbra aderência da atuação de João Cândido Felisberto na Revolta dos Marinheiros com os valores de heroísmo e patriotismo; e sim, flagrante
que qualifica reprovável exemplo de conduta para o povo brasileiro.

Nos dias atuais, enaltecer passagens afamadas pela subversão, ruptura de preceitos constitucionais organizadores e basilares das Forças Armadas e pelo descomedido emprego da violência de militares contra a vida de civis brasileiros é exaltar atributos morais e profissionais, que nada contribuirá ao pleno estabelecimento e manutenção do verdadeiro Estado Democrático de Direito. Por derradeiro, reitero protestos de elevada estima e consideração.”

“MARCOS SAMPAIO OLSEN
Almirante de Esquadra Comandante da Marinha”

Da redação do AltNotícias com informações do Metrópoles

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Parmenas Alt
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