quinta-feira, 07/11/2024
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Lava Jato tem futuro incerto após afastamento do juiz Eduardo Appio

Operação ganhou muita proporção na década passada, mas hoje vive momentos de turbulência

Em 2014, milhões de brasileiros acompanharam todos os dias, nos principais veículos de comunicação, informações sobre a Operação Lava Jato, responsável por investigar várias figuras influentes ao longo dos últimos anos. A operação cumpriu mais de mil mandados de busca e apreensão, prendeu temporariamente e preventivamente empresários e políticos, formou novas lideranças e virou debate entre especialistas do judiciário e da imprensa.

Ao identificar crimes de corrupção ativa e passiva, gestão fraudulenta, lavagem de dinheiro, organização criminosa, entre tantos outros crimes, a operação jogou holofote no sistema político do país. Na mesma época, parlamentares, governadores e a presidente Dilma Rousseff (PT) eram alvos de protestos de milhões de brasileiros, tanto de esquerda quanto de direita.

Porém, ao investigar e prender Lula, a Lava Jato entrou na mira de jornalistas, juristas e políticos. O petista acusou os procuradores da operação e o ex-juiz Sergio Moro de estarem o perseguindo.

Entre 2016 e 2018, a popularidade de Moro viveu seu ápice, mas passou a ‘derreter’ quando ele aceitou ser ministro da Justiça do governo Bolsonaro. A partir desse ponto, cresceu o argumento de que o ex-juiz instrumentalizou a justiça para retirar um adversário político da disputa das eleições presidenciais daquele período.

Com o surgimento da Vaza Jato, no qual hackers invadiram celulares dos procuradores e de Moro e vazaram conversas comprometedoras, a operação perdeu muita credibilidade aos olhos de milhões de brasileiros. Em 2019, o STF derrubou a prisão em segunda instância. No ano seguinte, Lula recuperou seus direitos políticos e se tornou pré-candidato à Presidência.

Bolsonaro foi acusado de enterrar a Lava Jato da forma que ela ficou conhecida. Moro se tornou suspeito após decisão do Supremo e várias condenações da operação foram anuladas.

Em fevereiro deste ano, Eduardo Appio, um dos críticos dos métodos adotados por Moro e pelos procuradores da operação , foi oficializado titular da 13ª Vara da Justiça Federal de Curitiba, tornando-se responsável pela Lava Jato.

Na mira dos políticos, a Lava Jato seguiu servindo de palco para guerras de narrativas. Surgiram informações de que Eduardo Appio doou para a campanha de Lula em 2022. Ele negou. Em março, uma nova acusação. O ex-juiz usava a senha ‘LUL22’ para acessar o sistema da Justiça Federal. O magistrado alegou protesto pessoal e isolado.

Na segunda (22),  o TRF-4 (Conselho do Tribunal Regional Federal) afastou o magistrado da função,  substituindo temporariamente pela  juíza Gabriela Hardt, que já admitiu admiração por Moro.

A decisão ocorreu após uma representação do desembargador federal Marcelo Malucelli. O magistrado alegou que o filho dele, João Eduardo Barreto Malucelli, recebeu “ameaças” através de um telefonema. Appio diz que é inocente.

O jurista Antônio Carlos de Almeida Castro, conhecido como Kakay, nunca escondeu sua insatisfação com os métodos adotados pelos procuradores e Sergio Moro no auge da Lava Jato. Na avaliação dele, as atitudes tomadas pelo grupo farão com que todos os envolvidos sejam investigados.

“O futuro da Lava Jato é a investigação criminal sobre aqueles que o Supremo Tribunal Federal disse que fizeram a corrupção no sistema de justiça”, opina. “Estamos em um início de momento que é grave, porque você tem a divulgação que o disco rígido da Odebrecht foi quebrado a broca pelo juiz do interior, que também é do grupo do Moro”.

Ele trata o afastamento de Appio, no qual o classifica de ‘juiz sério’, como uma reação do grupo que se “sentiu ameaçado” pelas decisões tomadas pelo juiz, mas não acredita que a decisão é definitiva. “O que existe hoje, infelizmente, é a continuação de uma guerra dentro da Lava Jato de Curitiba”.

“Mas não acho que isso colocará em risco esse momento novo da operação, que tem feito a investigação das responsabilidades criminais, principalmente do ex-juiz Moro e dos procuradores que ele coordenava. Depois pode ter uma investigação para saber porque os tribunais foram tão coniventes com a operação”, afirma.

Kakay explica que a Lava Jato era “totalmente fechada em Curitiba”, porque existia apenas um grupo que ele se refere como “República de Curitiba”. Agora, na avaliação dele, o momento da operação é outro.

Ao longo da Lava Jato, Kakay acusou os membros da operação de cometerem várias irregularidades, principalmente contra o presidente Lula. Quando se cogitou a possibilidade de Moro ser indicado ao Supremo, o jurista ironizou.

Mas a visão de Kakay não é a mesma de Adelaide Oliveira. Formada em Letras, trabalhou no Grupo Votorantim e exerceu a profissão de corretora de imóveis durante 24 anos. Sua vida deu um giro há quase uma década, quando resolveu fazer parte do movimento Vem Pra Rua e participou das manifestações contra a ex-presidente Dilma Rousseff e a favor das 10 medidas anticorrupção.

Lavajatista assumida, seguiu defendendo a bandeira pró-operação dentro do MBL e chegou a ser vice da chapa de Arthur do Val, o Mamãe Falei, a Prefeitura de São Paulo em 2020. Porém, ela admite que a operação não tem o mesmo ‘DNA’ do passado.

“A Lava Jato acabou. Aquela Lava Jato que a gente conheceu, com um sistema inteligente, não existe mais. Hoje só tem o nome e ‘cadáveres’ para se resolver [juridicamente]”, lamenta.

Ela aponta que a operação enfraqueceu por culpa dos ataques promovidos pelo sistema, porque muitos políticos e empresários foram alvos. Também reconhece que a ida de Moro para o governo Bolsonaro acelerou o “processo de destruição”.

“Mesmo assim, cedo ou tarde, o sistema conseguiria acabar com a Lava Jato como a gente conheceu. O fim dela era benéfico para muita gente”, opina.

Apesar da frustração, Adelaide mantém a esperança que um dia a Lava Jato ou uma nova operação consiga combater à corrupção. Ela indica que isso só acontecerá se tiver a participação dos brasileiros.

“A Lava Jato, com a equipe do passado, responsável por combater à corrupção, poderia servir de exemplo para outros setores. Imagina uma Lava Jato para enfrentar o crime organizado? Iríamos ter grandes resultados. Infelizmente, não deu certo”, lamenta.

“Mas acredito que possamos lutar por um sistema de combate à corrupção mais sólido. Acreditamos que bastava trocar de governo e iríamos resolver os problemas, mas não é bem assim. Tenho certeza que o brasileiro, aquele que participou das manifestações de 2014 e 2015, que paga seu imposto corretamente, seguirá lutando para que possamos ter justiça e ética no nosso país. Eu tenho essa esperança”.

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Parmenas Alt
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