Economista cita o exemplo do presidente do Federal Reserve na década de 1970, que manteve os juros abaixo do necessário por submissão ao presidente, levando a uma crise que só foi controlada com a elevação dos juros para 21% ao ano pelo presidente seguinte.
Em artigo publicado nesta segunda (3) no Estadão, o economista Henrique Meirelles criticou a política econômica de Lula/Haddad e destacou a importância de a política fiscal e monetária caminharem na mesma direção. Ele aponta que quanto mais o governo gasta, mais o Banco Central precisa elevar juros para conter a inflação, e que quando o governo controla os gastos, a política monetária pode ter juros mais baixos. No entanto, Meirelles observa que no Brasil essas políticas têm ido em direções opostas há anos. Na última semana, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o BC precisa ajudar o Brasil a crescer com inflação baixa. Para Meirelles, o problema é que, para fazer isso, o BC precisa trabalhar com juros mais altos.
Meirelles destaca que o BC deve ser independente de influências políticas para praticar uma política monetária que produza o melhor para o país. Ele cita o exemplo do presidente do Federal Reserve na década de 1970, que manteve os juros abaixo do necessário por submissão ao presidente, levando a uma crise que só foi controlada com a elevação dos juros para 21% ao ano pelo presidente seguinte. Segundo Meirelles, o BC ajuda o Brasil ao manter a inflação na meta e, para isso, é necessário que o governo controle os gastos e se comprometa a reduzir a dívida. Quando o BC faz política monetária contracionista, ele protege o país da inflação.
O Brasil tem alta demanda por gastos sociais, mas Meirelles sugere que o governo eleja prioridades, corte gastos em outras áreas e busque investimentos. Ele ressalta que juros menores e mais inflação para gastar agora não ajudam o Brasil, mas sim semeiam uma crise futura, como aconteceu no governo Dilma, que levou o país à pior recessão da história recente. Meirelles conclui que algumas coisas que parecem novidade no Brasil são apenas repetição e que é preciso buscar soluções mais eficazes para atender às demandas sociais sem comprometer a estabilidade econômica do país.