Cerca de 70% dos infectados com o vírus da Aids continuam sem tratamento, indica um relatório conjunto da Organização Mundial de Saúde (OMS), Unaids e Unicef publicado nesta segunda-feira em Genebra.
De acordo com os dados apresentados no documento, cerca de 6,5 milhões de pessoas que precisam de terapia anti-retroviral para combater a doença permanecem sem tratamento.
O documento traz uma análise da abrangência do tratamento da Aids em cerca de 150 países considerados de baixa e média renda durante o ano de 2007.
Segundo o relatório, o Brasil está acima da média na oferta de tratamento aos infectados com o vírus. O relatório aponta que 80% dos pacientes com HIV positivo no País recebem terapia anti-retroviral, enquanto a média global é de apenas 31%.
Conquista
Intitulado “Towards Universal Access: Scaling up Priority HIV/AIDS Interventions in the Health Sector” (No caminho para o acesso universal: ampliando as intervenções prioritárias da HIV/AIDS no setor de saúde, em tradução livre), o relatório afirma, entretanto, que, apesar de a grande maioria continuar sem tratamento, o número de pessoas que recebe a terapia anti-retroviral está aumentando.
Os dados indicam que, atualmente, 3 milhões de pacientes estão recebendo tratamento – um aumento de 950 mil novos pacientes com relação a 2006. “Essa é uma conquista significativa para a saúde pública”, afirmou a diretora da OMS, Margaret Chan.
O documento ressalta ainda uma melhoria importante na prevenção da transmissão da doença de mãe para filhos. Segundo os dados, em 2007, cerca de 500 mil mulheres grávidas tiveram acesso aos anti-retrovirais e preveniram seus filhos de serem infectados pelo HIV – um aumento de 150 mil com relação a 2006, quando este número chegava a 350 mil.
Segundo o relatório, 90% dos casos de transmissão da doença de mãe para filho durante a gestação são registrados na África subsaariana.
Além disso, o relatório destaca um aumento no número de crianças infectadas que passaram a receber tratamento – 73 mil pacientes infantis começaram a terapia anti-retroviral em 2007, totalizando 200 mil crianças em tratamento.
“Nós podemos ver um progresso encorajador na prevenção da transmissão do HIV de mãe para os recém-nascidos. O relatório deve nos motivar a focar e dobrar os esforços pelas crianças e famílias afetadas pela Aids”, afirmou a diretora-executiva da Unicef, Ann Venemam.
Obstáculos
Apesar das melhorias neste sentido, o documento aponta alguns obstáculos que impedem que os tratamentos anti-retrovirais se tornem mais abrangentes, entre eles a dificuldade de diagnosticar a Aids em crianças.
Outro problema seria o fato de que muitas terapias não têm continuidade, já que muitos pacientes permanecem menos tempo do que o necessário em programas de tratamento.
Além disso, o documento indica ainda que a maioria dos pacientes morre nos seis primeiros meses de tratamento porque são diagnosticados tarde demais e que muitos permanecem sem diagnóstico.
Outro obstáculo é a falta de preparação do sistema de saúde dos países mais afetados pela doença, em particular a falta de treinamento e manutenção de profissionais de saúde qualificados. Segundo o documento, os profissionais qualificados acabam migrando para outros países e deixam uma lacuna no sistema público de várias áreas afetadas.
O documento ressalta ainda a necessidade de investimentos sustentáveis e de longo prazo nos esforços para combater a doença nesses países, além da implantação de sistemas de monitoramento para avaliar o progresso e o impacto dos programas de prevenção da doença.