Na edição em que celebramos nossos 25 anos, seria justíssimo compartilhar com o mundo aquilo que fez com que, modestamente, déssemos nossa contribuição não só em prol da celebração de uma das forças mais importantes e seminais para a evolução da humanidade, a sensualidade, mas também que produzíssemos lenta e sistematicamente um novo olhar para a graça feminina. E, por que não, o decifrar de uma nova, brasileira e saudável estética (e ética) das nossas mulheres. Uma maneira mais leve, mais humanizada, mais amorosa de olhar e de se relacionar com elas.
Mas, se você quer saber o segredo, ele existe sim. Depois de duas décadas e meia produzindo os ensaios de Trip Girls por aqui, digamos que acumulamos alguns saberes. Foram centenas de sessões tentando capturar o recorte original da sensualidade feminina que só existe por aqui. Por mais que estivesse rodeando a todos os abençoados brasileiros, incrivelmente ele não se via representado nas revistas nacionais. Influência da estética (e da mentalidade) importada, muito especialmente a americana, as revistas publicadas no país insistiam em tentar retratar mulheres irreais, coisificadas, construídas, enquanto nas ruas, nas praias, nas escadarias das quebradas, nas esquinas e nos quartos uma sensualidade mais viva, mais saudável e verdadeira, menos culpada e mais solar, se revelava aos minimamente assistidos pela sorte em doses capazes de fazer o mais frio ateu colar uma palma da mão à outra, erguer as duas juntas bem alto e dar graças a Deus.
A própria Luana Piovani, na entrevista publicada mês passado em nossas Páginas Negras, meio sem querer descreveu com perfeição e objetividade o que é um ensaio de Trip Girl. Quando explicava por que recusou convites milionários para aparecer em outras publicações ela disse o que pensa, como sempre: “… [queria fazer um ensaio] sem ficar posando de quatro, sem ficar botando dedinho na boca, fazendo cara de ‘vem me pegar’. Quero fazer um trabalho mais conectado à arte, mais atrelado à atitude, com a gargalhada, com o não fazer cara de nada, com o simplesmente estar ali”.
Mas, afinal, que segredo é esse? Por que diabos alguns ensaios (e me permito dizer que este que você tem em mãos talvez seja um dos que melhor exprimem o que virá a seguir) atingem uma espécie de estado da arte, capturam esse “simplesmente estar ali”, mexem com os fundos das gavetas cerebrais, remexem naqueles pontos do inconsciente onde não bate luz e se tornam clássicos desde o dia em que são vistos pelo primeiro leitor? Bastaria ter na frente da câmera uma mulher fisicamente lindíssima? Seria a tal tensão erótica/sedutora que, mesmo sublimada, precisa existir entre fotógrafo e fotografada? Seriam as palavras mágicas que alguns profissionais da fotografia são capazes de dizer aos pés daqueles belos ouvidos e que teriam o poder mágico de desligar o superego e destravar suas modelos? Seria o velho recurso do liberador de espíritos engarrafado, seja destilado ou fermentado?
Aí vai. No melhor estilo “no nosso aniversário quem ganha o presente é você”, vamos revelar nesta edição histórica (pelo menos para nós) o segredo da Trip Girl perfeita:
Ela precisa estar feliz.
Depois de duas dezenas e meia de anos fotografando mulheres lindíssimas de todas as idades, origens e formações, podemos garantir. Isso por si não basta. E não basta que sejam inteligentes, bem-humoradas, carinhosas. Nem que se encantem pelo fotógrafo (ou fotógrafa).
Ela precisa estar em paz, gostando muito da vida, relaxada e satisfeita não só com seu corpo e aparência, mas com o que se passa de sua epiderme para dentro.
As fotos que você está vendo antes, depois e ao lado deste texto explicam tudo melhor. Do momento em que trocamos as primeiras ideias sobre este ensaio para os abençoados e ensolarados dias em que elas foram clicadas, uma espécie de swell de coisas boas entrou na vida da nossa nada invisível Trip Girl aqui presente. Nesses meses ela encontrou o cara. Aqui, aliás, vale fazer uma breve pausa para que a própria descreva do que estamos falando exatamente quando nos referimos a “o cara”:
“encontrei o cara que observa o mundo,
que busca evolução e vive!! sorri!
saca? é mais que se apaixonar…
eu encontrei!! o desafio, a alma, o que me ama como
sou, o que entende… sei lá…”
Como não poderia deixar de ser em se tratando da nossa bombshell, ela mergulhou fundo nessa mais que paixão, se dedicou a ela sem economizar um milímetro de seu amor e de sua energia. Mas, com o que tinha na reserva, deu outro mergulho num novo trabalho na TV ao lado de gente muito boa e gostosa de conviver, como Selton Mello e Débora Falabella, tratou de se alimentar de forma mais inteligente e, por último, mas infinitamente mais importante, decolou para a viagem mais intensa e psicodélica de sua vida: gerar uma outra.
Diante desse quadro, tudo ficou fácil. Escolher o lugar, o figurino, a música, tirar a roupa, sorrir, encarar a lente, dispensar retoques e outras mentiras, brincar com o olhar do fotógrafo, entrar na água, “simplesmente estar ali”… O que, afinal, pode ser difícil ou indigesto para quem está vivendo uma espécie de epifania de longa duração? O que pode ser mais irresistível do que uma mulher linda, deliciosamente louca, ligeiramente grávida e profundamente feliz?
Só mesmo Luana Piovani.