Onze mil detentos devem deixar os presídios de São Paulo para passar o Dia dos Pais, comemorado no domingo, em casa. A saída desses presos — que representam cerca de 10% da massa carcerária do estado — foi confirmada pela Secretaria Estadual de Administração Penitenciária (SAP) e aumentou o clima de medo entre a população, aterrorizada com a terceira onda de violência promovida pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) em menos de três meses. Na primeira série de ataques, em maio, presidiários que conseguiram o direito de ficar com a família no Dia das Mães foram detidos sob suspeita de envolvimento com as ações.
Além disso, parte dos detentos que recebe o benefício não volta para a cadeia. Em 2005, 11.087 presos foram liberados na época do Dia dos Pais, mas 808 não retornaram, o que equivale a 7,29% do total. No Dia das Mães deste ano, dos 12.645 internos que foram para as ruas, 965 não voltaram, ou seja, 7,63%.
Segundo a SAP, se a saída dos presidiários for aprovada pela Justiça, os detentos começarão a deixar as cadeias amanhã. Eles devem retornar para os presídios segunda-feira ou terça-feira, até as 18h, dependendo do caso. O benefício de passar datas comemorativas em casa é previsto por lei. Para consegui-lo, o detento precisa estar em regime semi-aberto, apresentar bom comportamento e ter cumprido um sexto da pena, se for primário, e um quarto, se for reincidente. Até segunda-feira, 8.852 internos já haviam obtido o direito.
O MP fez apelo aos juízes para que não autorizem a saída temporária dos presidiários ligados ao PCC — esse teria sido, inclusive, um dos motivos para a nova onda de violência. A solicitação do MP é baseada nas informações de que detentos beneficiados no Dia das Mães teriam participado dos atentados de maio e levado ordens de líderes do PCC para criminosos em liberdade. E em dados fornecidos por agentes penitenciários, que relatam que os presos envolvidos com o PCC que receberem o benefício já estão orientados pelos chefões da facção a cumprir ‘missões especiais’, como assaltos, assassinatos, distribuição de drogas e atentados.
PRESOS VIGIADOS
Comandante da PM, o coronel Eliseu Eclair afirmou ter enviado ao MP a lista dos presidiários identificados como integrantes do PCC para que não sejam liberados. Seriam 130 presos ligados à facção. Caso eles tenham o direito de sair das cadeias, o coronel disse que serão monitorados pela PM.
Apesar da polêmica em torno do benefício, o governador de São Paulo, Claudio Lembo, afirmou ser favorável à liberação dos presos: “Acho que não devemos ter medo ou mostrar espírito de vingança. Devemos continuar dialogando”.
Granada em túnel da capital
O PCC, que deu início à nova onda de violência no fim da noite de domingo, continuou a promover atentados. Pelo menos 144 alvos já foram atacados. Uma das ações teve como objetivo atingir o Túnel Nove de Julho, uma das principais ligações entre Zona Sul e Centro da capital. Granada foi deixada perto do local mas não explodiu. O túnel foi interditado. A polícia foi acionada e detonou o artefato. Em outro ato ousado na cidade, bandidos incendiaram um vagão de trem na estação do Itaim Paulista, Zona Leste.
Prédios públicos, como de prefeituras e da Receita Federal, unidades policiais e da Guarda Civil Metropolitana, bancos e edifício de igreja também sofreram atentados. A maioria das ações foi no Interior e Região Metropolitana. Em um dos pelo menos 39 ataques contra ônibus, na Zona Sul da capital, uma pessoa morreu, duas ficaram feridas e uma foi presa. Bandidos atiraram no veículo. Policial revidou e houve confronto. O policial foi baleado no rosto e uma passageira, atingida por estilhaços de vidro. Um criminoso foi morto e outro, preso.
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